Os acontecimentos em torno da atual crise política se reproduzem na mesma velocidade da pandemia. Nas últimas horas, uma profusão de fatos reforçaram a percepção de que o presidente Jair Bolsonaro se utilizará de todos os recursos à disposição para se manter no comando da nação.
Em primeiro lugar, ele designou para postos-chave nomes de sua plena confiança. O novo ministro da Justiça é o ex-titular da Advocacia-Geral da União, André Mendonça. Na Polícia Federal, após uma queda de braço, assumirá Alexandre Ramagem - um dos motivos da demissão de Sérgio Moro, diga-se.
A blindagem não para por aí. No processo de aproximação com o Centrão, o presidente dará o comando do estratégico Banco do Nordeste ao PP do senador Ciro Nogueira (PI) e do deputado Arthur Lira (AL), expoentes desse poderoso grupo parlamentar que agrega em torno de 200 parlamentares na Câmara dos Deputados. Blindagem é a palavra de ordem no Planalto.
Com relação a um eventual pedido de impeachment de Bolsonaro, o clima segue pouco favorável a esse movimento. Mesmo o elevado número de pedidos de afastamento colocados à mesa do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM/RJ) - já são mais de vinte - não garante a abertura do processo.
Maia, por sinal, emite sinais tímidos com relação ao tema. Ele chegou a se retirar de uma entrevista coletiva quando perguntado sobre a questão. O desconforto do parlamentar era palpável. Na verdade, ele joga suas fichas em uma possível ação judicial contra o presidente pelo Supremo Tribunal Federal.
Aliás, a Corte aceitou na segunda-feira, 28 de abril, a abertura de inquérito contra Bolsonaro e Sérgio Moro. Um elemento a mais no caldeirão que ferve na cena política.
Por fim, Sérgio Moro segue como importante peça nesse xadrez. Ele mostrou ter conservado seu capital político e tudo indica que usará esse ativo. É possível que ele passe a ser alvo do centro e da esquerda, que veem nele um adversário de peso para 2022 - muito mais que o atual titular do Planalto.
O jogo segue em curso, com uma variedade de desfechos possíveis. Uma coisa é certa - o processo sucessório teve início com força total.
André Pereira César
Cientista Político
