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Um Coronavírus para chamar de seu

Agora é oficial: o novo Coronavírus (COVID19) chegou ao Brasil, demonstrando potencial para afetar parcela significativa da população. Para além dos nefastos efeitos na economia e na saúde pública, o quadro político inicia a semana pior do que terminou. A alardeada tempestade ganha força.

Na manhã de segunda-feira, 16 de março, eram registrados duzentos casos do COVID19 em todo o país. Com a atualização dos dados, esse número tende a aumentar. Além disso, cerca de duas mil pessoas estão em observação, e o total de contaminados deverá crescer substancialmente no curtíssimo prazo. Há o temor, entre especialistas, de que o cenário italiano se reproduza no Brasil.

Enquanto isso, o país repercute as manifestações de domingo, 15 de março. Um fato é claro - elas registraram menor presença de público, mas com um tom mais agressivo. Olhando-se o perfil dos manifestantes, fica evidente que boa parte era de pessoas de mais idade, que, em tese, vivem em melhores condições materiais e temem perder o conquistado. Esse grupo enxerga no establishment político uma ameaça às suas conquistas.

Aqui entra a atuação do presidente Jair Bolsonaro. Ainda em quarentena devido ao contato com assessores que contraíram a doença, ele se aproximou de populares em frente ao Planalto, em ato duramente criticado por infectologistas, autoridades dos outros poderes, imprensa e boa parcela da opinião pública. E não foi só isso - ao final, ele desafiou os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM/RJ) e Davi Alcolumbre (DEM/AP), a irem para as ruas e verem como seriam recebidos. Mais uma das diversas provocações do presidente, que insiste em alimentar a crise entre os Poderes justamente em um momento em que se precisa de união de forças.

As lideranças políticas, por sua vez, seguem aguardando ações efetivas do Planalto e da equipe econômica sob o comando de Paulo Guedes. Tudo indica que as reformas deverão ficar em segundo plano, em detrimento de uma agenda emergencial para enfrentar o novo Coronavírus. A verdade é que, hoje, não há ambiente para um diálogo entre Executivo e Legislativo.

Enfim, são muitas as linhas de frente a serem enfrentadas - novo Coronavírus, disputa pelo preço do petróleo, briga entre os Poderes. O problema maior, porém, é o presidente da República, que desdenha dos fatos e não se comporta como um chefe de Estado. Na verdade, Bolsonaro conduz a situação como se governasse apenas para seus eleitores. A tempestade que se aproxima com rapidez poderá ganhar força extra caso o titular do Planalto não mude rapidamente de atitude.

André Pereira César

Cientista Político

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