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Sucessão presidencial – O centro em busca de nomes

A cada dia que passa, a movimentação se torna mais evidente. Com o retorno do ex-presidente Lula (PT) ao tabuleiro eleitoral e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em plena campanha antecipada, os partidos de centro aceleram para encontrar candidato (ou candidatos, no plural) capazes de entrar no jogo de maneira competitiva. Até o momento, sem êxito.

A chamada “Frente Ampla Democrática”, como se sabe, busca conquistar o eleitorado que, em tese, foge aos extremos do espectro político, hoje equivocadamente simbolizados em Lula e Bolsonaro. O grupo vem ganhando espaço na mídia em geral, mas ainda não tem projeto definido, organicidade mínima e nomes.

Ao contrário, alguns potenciais pré-candidatos perdem fôlego logo de saída. O ex-ministro Sérgio Moro é carta praticamente fora do baralho com a decisão do Supremo Tribunal Federal considerando-o suspeito ao condenar Lula no caso da Lava Jato. Já o apresentador Luciano Huck não se coloca efetivamente como alternativa viável e, com isso, perde o timing - inclusive fala-se abertamente sobre a renovação de seu contrato com a Rede Globo. Os defensores de seu nome já consideram remota uma candidatura presidencial.

Os demais postulantes seguem tateando o terreno, sem ganhos efetivos junto ao eleitorado - Ciro Gomes (PDT), João Amoêdo (Novo), Luiz Henrique Mandetta (DEM), João Dória (PSDB) e Eduardo Leite (PSDB) - os dois últimos envolvidos em uma disputa partidária que pode ter consequências graves para seus projetos políticos.

Desse modo, não surpreende a entrada de dois novos nomes no balaio de centro - o ex-presidente Michel Temer (MDB) e o decano senador Tasso Jereissati (PSDB). Ambos têm na experiência e no perfil conciliador seus principais ativos políticos.

Chama a atenção a “opção Temer” pelo fato de ele ter deixado a presidência, no final de 2018, sob duras críticas e com elevados índices de rejeição junto a opinião pública. Pior, o afastamento da então presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, deu à gestão Temer ares de “golpismo”, por mais que ele e seus aliados neguem.

No caso de Jereissati, o quadro é diferente. Dos mais experientes senadores em atividade, ele tem sido um parlamentar atuante (relatou a lei do saneamento básico e a reforma da Previdência, entre outras) e contrário à atuação do presidente Bolsonaro no combate à pandemia. Seus aliados já têm inclusive o slogan - “Jereissati, o Biden brasileiro” - para atingir o eleitorado. A CPI da Covid, que terá sua participação, será seu teste definitivo, e ele parece disposto a enfrentar o desafio, como afirmou em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo no domingo, 25 de abril.

O fato é que ainda há muito a ser construído pela Frente Ampla Democrática para que ela se torne um bloco competitivo. Existe ainda uma dificuldade extra no caminho - o ex-presidente Lula já busca espaço junto ao meio empresarial, colocando-se como nome de centro. A lembrança do primeiro mandato do petista pode ajudá-lo a conquistar novos aliados.

O tempo corre contra os defensores de uma candidatura alternativa. As próximas semanas deixarão claro se a Frente Ampla Democrática representa um projeto consistente ou não passa de mais um castelo no ar.

André Pereira César
Cientista Político

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