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Sucessão presidencial: Dória em quatro atos

A pré-candidatura do governador paulista João Dória (PSDB) à presidência da República é um fato inegável. Quatro eventos ocorridos nos últimos dias atestam essa realidade. O tucano começou a mostrar suar armas.

Primeiro ato - início da vacinação: tão logo a Anvisa liberou o uso emergencial da Coronavac, em 17 de janeiro, Dória entrou em campo e deu início imediato à vacinação no estado, antecipando-se ao cronograma estabelecido pelo governo federal. O governador tentou passar a imagem de um gestor pronto a responder, com celeridade, a todas as demandas da população.

Mais ainda, ele transformou a ocasião em um grande evento de mídia e carregou-a de simbolismo, ao vacinar uma enfermeira e servidora pública negra. Mônica Calazans, a profissional de saúde, tornou-se imediatamente uma figura icônica.

Segundo ato - distribuição da Coronavac: simultaneamente ao início da vacinação, Dória atendeu a determinação do Planalto e, sem conflitos, enviou doses da Coronavac para os outros estados da federação, por intermédio do ministério da Saúde.

Aqui, o tucano tentou mostrar-se aberto ao diálogo, independentemente de questões políticas e/ou ideológicas, em contraste com a postura intransigente e radical do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Terceiro ato - reunião de ex-presidentes: em uma inteligente jogada de marketing político, Dória convidou todos os ex-presidentes para participarem de um evento. Três ex-presidentes da República - José Sarney (MDB), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Michel Temer (MDB) – compareceram e, juntos, defenderam a vacinação e as medidas adotadas pelo governo paulista para o combate à pandemia. O ato concentrou as atenções da imprensa em um dia de feriado na capital do estado.

O governador sinalizou estar em busca da união do país, em um momento de grave crise e de grande polarização política. Tudo milimetricamente calculado.

Quarto ato - entendimento com a China: por fim, Dória estabeleceu um canal de comunicação com o governo chinês na tentativa de liberar insumos para a produção da Coronavac pelo Instituto Butantã. A princípio, ele obteve êxito na empreitada.

A participação do embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, ao lado do governador em video na terça-feira, 26 de janeiro, foi uma resposta do tucano ao titular do Planalto, que havia afirmado ser o responsável pelo acordo de liberação dos insumos. Wanming, cabe lembrar, é desafeto do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL/SP), com quem trocou farpas em público.

Considerações finais: é cedo para se afirmar que a jogada de João Dória será coroada de êxito. De concreto, duas constatações - ele começa a se projetar nacionalmente e obriga o presidente Bolsonaro a sair da inércia no combate à pandemia, o que não é pouco. Talvez esses movimentos se revelem antecipados demais. A conferir.

André Pereira César
Cientista Político

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