Sucessão Presidencial: desafios imediatos da agenda brasileira - Política - Hold

Sucessão Presidencial: desafios imediatos da agenda brasileira

O ano se aproxima da metade e graves questões se colocam para o país. É inevitável que esses temas tenham impacto direto sobre o processo sucessório, extraoficialmente já em curso.

Crise no setor elétrico - um apagão ocorrido em vários estados, no final de maio, acendeu o alerta: o Brasil está na iminência de enfrentar uma grave crise no setor elétrico. A crise hídrica aliada ao reduzido volume de investimentos no setor são algumas das causas desse quadro.

O governo tenta se preparar para enfrentar o difícil cenário que se desenha. Usinas termelétricas, mais caras e poluentes, podem ser acionadas, e o consumo fora dos horários de pico deve ser estimulado. Todas medidas paliativas, diga-se, que não atacam a questão em sua raiz.

Imediatamente vem à memória a “crise do apagão” de 2001 e 2002, no final do governo Fernando Henrique Cardoso. Assim como hoje, a falta de chuvas e os reduzidos investimentos levaram a um quadro dramático, que repercutiu nas eleições de outubro de 2002. Sinal amarelo para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O futuro da economia - o resultado do PIB em 1,2%, divulgado dias atrás, deu novo ânimo aos investidores, e a bolsa de valores bateu recorde. Resta saber agora se a recuperação da economia é consistente ou se trata apenas de um soluço. A crise no setor elétrico, é bom lembrar, é uma ameaça real à retomada efetiva do desenvolvimento.

Indo além dos números do PIB, a desigualdade é outro problema grave enfrentado pelo país. A alimentação ilustra à perfeição esse quadro. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o consumo per capita de carne será de 26,4 quilos em 2021, o pior nível da série iniciada em 1996 e bem abaixo da média dos últimos anos. A fome voltou a assolar os lares do país.

Com quase 15 milhões de desempregados e mais de 33 milhões em situação precária, fica claro que a anunciada recuperação da economia, por si só, está longe de ser um êxito.

Militares - a caserna vive dias agitados. A decisão do Alto Comando de não punir o general Eduardo Pazuello por sua participação em evento político ao lado de Bolsonaro dividiu o Exército e, mais ainda, colocou em risco a ordem e a hierarquia da instituição. O risco de novas manifestações é real, com consequências imprevisíveis.

Além do Exército, a Polícia Militar também vive um momento conturbado. Com um recente histórico de proximidade com o titular do Planalto, há sinais, ao menos em alguns estados, de que a corporação pode deixar de obedecer aos governadores, a quem legalmente prestam ordens. O ocorrido em Recife (PE), na manifestação popular contra o presidente, é um indicativo dessa realidade.

Copa América no Brasil - a polêmica em torno da realização da Copa América de futebol no Brasil trouxe o esporte para a arena política. Com o apoio do Planalto, o evento, caso confirmado, ocorrerá em plena pandemia, e sob uma rajada de críticas.

Com a presença de nove delegações, além da brasileira, o campeonato poderá ser o gatilho para uma nova explosão de casos de Covid. Não por acaso, autoridades sanitárias são contrárias à realização dos jogos, e o próprio escrete canarinho chegou a ameaçar boicotar o torneio.

De outro lado, o governo federal se escorou no ufanismo para defender o evento. Os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, é claro, aproveitaram a polêmica para reforçar os laços com o Planalto. Uma espécie de “Brasil, ame-o ou deixe-o” em versão digital.

Pandemia - com a vacinação seguindo em ritmo lento, o Brasil está prestes a atingir a marca de 500 mil mortos em decorrência da Covid. Para piorar, vive-se à sombra de uma terceira onda da doença, e novas variantes também podem surgir a qualquer momento. O sistema de saúde segue operando no limite e o quadro deverá melhorar somente no final do ano, caso o Plano Nacional de Imunização amplie a cobertura de vacinação.

Todos esses desafios, de alguma forma, impactam o dia-dia do brasileiro. O enfrentamento dessas adversidades por parte do governo Bolsonaro poderá influenciar positivamente no resultado eleitoral de 2022. Do contrário, os adversários políticos é que se beneficiarão dos resultados negativos do governo.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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