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Procura-se um governo para o combate à pandemia

É inegável que o domingo, 17 de janeiro, foi um dia histórico para o Brasil. Tão logo a Anvisa liberou o uso emergencial das vacinas Coronavac e de Oxford, o governo paulista, patrocinador da primeira, começou a aplicar na população. Vitória dos brasileiros, sim. Mas também um gol do governador João Dória (PSDB/SP), que começa a colher os frutos políticos de sua aposta.

O contraste com a administração de Jair Bolsonaro (sem partido) é enorme. Aliás, o silêncio de Bolsonaro sobre a aprovação emergencial das vacinas foi ensurdecedor. Enquanto São Paulo vacina e repassa seu estoque para o governo federal, ficou mais que evidente a incapacidade gerencial do titular do Planalto no combate à pandemia - e aqui, é importante frisar, não se trata de questão ideológica, mas puramente administrativa. A comédia de erros patrocinada pelo Planalto e pelo ministério da Saúde evidenciou esse quadro. O rei está nu.

Aos fatos. No decorrer dos meses com piora do quadro nos últimos dias, uma série de episódios encabeçada pelo Planalto deixou o país entre a tragédia e a comédia. A negação da gravidade da pandemia; a ausência de insumos, entre eles seringas e agulhas, para vacinação da população; o frustrado voo para a Índia para trazer dois milhões de doses de vacina; o colapso em Manaus, com o governo federal reconhecendo que sabia com antecedência que o oxigênio acabaria na cidade; a insistência no uso da cloroquina e da ivermectina para a prevenção da COVID-19, são apenas alguns exemplos.

Por fim, o ato principal, que trouxe à luz todo o desespero do presidente - a utilização da até então duramente criticada Coronavac para atender a população. De “vacina chinesa”, ela passou à condição de principal arma do país, ao menos por ora, no combate ao coronavírus.

O desgaste político para Bolsonaro já começa a ganhar corpo. Os conhecidos panelaços retornam às grandes cidades, sinalizando a crescente insatisfação de setores da sociedade, e a palavra “impeachment” volta a circular na imprensa e no mundo político.

Para piorar, o governo tem outros dois problemas a enfrentar: a economia, que segue claudicante e, encerrado o auxílio emergencial, tende a se deteriorar; e a questão ambiental, foco de pressão de governos e investidores, que terá no democrata Joe Biden um adversário de porte a partir de agora. É possível se afirmar que estamos à beira de uma tempestade perfeita.

É claro que a vacinação, agora iniciada, começará a desanuviar o quadro da crise sanitária. Esse será um processo lento, porém. O primeiro semestre será de grandes dificuldades.

Dória coloca-se hoje como o principal adversário de Bolsonaro na disputa por 2022. O tucano também corre riscos - por exemplo, ser isolado pelos demais governadores por conta de sua grande exposição no caso, o que poderá ocorrer em breve.

Enquanto isso, os brasileiros em geral continuam à procura de um governo.

André Pereira César

Cientista Político

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