Política e saúde no Brasil de Bolsonaro* ** - Política - Hold

Política e saúde no Brasil de Bolsonaro* **

Nos últimos dias, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, foi proibido pela Justiça de fazer um pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão. Na fala, ele elogiaria os feitos do governo na área, em especial no que diz respeito à vacinação. Propaganda eleitoral clara e ilegal, mas não só. Mentirosa também.

As ações do governo durante a pandemia sintetizam o que é a gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL) na saúde pública. Desmonte da estrutura, descaso e desinformação, tudo beirando a irresponsabilidade. Defesa de medicamentos comprovadamente ineficazes (cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina), críticas às medidas protetivas para a população (“não fique em casa”) e, principalmente, ataques à vacinação contra a Covid - os quase 700 mil mortos são o retrato fiel desse quadro.

Sob a gestão de Luiz Henrique Mandetta (União/MS), logo no início da pandemia, havia ainda um trabalho de tentativa efetiva de contenção da doença, com a criação de grupos de especialistas que se comunicavam inclusive com a comunidade científica mundial e a Organização Mundial da Saúde-OMS. Esse trabalho teve sequência no curto período em que Nelson Teich comandou a pasta. A chegada do general Eduardo Pazuello, porém, mudou tudo. Toda a estrutura foi desmantelada e militares sem o mínimo conhecimento da área assumiram postos-chave. O caos se instalou, justamente quando a Covid ganhava força. Tragédia anunciada, e talvez deliberada. A falta de oxigênio em Manaus (AM), não pode ser esquecida.

A CPI da Covid no Senado Federal, ocorrida posteriormente, jogou luzes sobre os fatos. Além do negacionismo do governo, ficou evidente a existência de um esquema de corrupção na tentativa de compra de vacinas no valor de R$ 1,6 bilhões. Personagens obscuros entraram em cena para a aquisição de insumos a preços superfaturados. Alguns ganhariam muito, enquanto a população, abandonada, adoecia e morria.

O cardiologista Marcelo Queiroga, que assumiu após o “desastre” Pazuello, não resolveu o quadro. Pior, mostrou-se, com o apoio do Conselho Federal de Medicina-CFM, subserviente ao presidente da República, que seguiu a linha de negação e desinformação. A saúde pública continuou (e continua) maltratada.

Mas não foi somente a Covid que colocou a saúde na lona. A estrutura administrativa do ministério foi quebrada, e estados e municípios perderam muito com o novo quadro. O esquema vacinal brasileiro, referência global, foi esvaziado. O retorno da poliomielite tornou-se um risco real. Novas doenças, como a varíola dos macacos (monkeypox), ameaçam a todos agora. A situação continua caótica e o governo não aprendeu com erros, tanto que Jair Bolsonaro (PL), em recente entrevista, insinuou que só tomará a vacina contra a monkeypox, quem for “viado”.

O que esperar do futuro imediato? O país tem condições, hoje, de enfrentar uma nova pandemia? Infelizmente, as respostas não são boas. O descaso segue como tônica do governo, do ministério da Saúde e do CFM. O único norte é a propaganda, que visa a reeleição, a todo custo, do titular do Planalto.

André Pereira César

Cientista Político

Alvaro Maimoni

Consultor Jurídico

*Tema da live de 11 de agosto de 2022, disponível em nosso canal no YouTube.

**Com a participação especial do médico epidemiologista André Ricardo Ribas de Freitas.

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