O PT nas eleições de Outubro - Hold

O PT nas eleições de Outubro

É de conhecimento geral que o PT vive um momento crítico em sua história. O partido,
que governou o país do início de 2003 a abril de 2016, definirá em breve quais serão
suas diretrizes e estratégias para as eleições de outubro próximo, em especial a
sucessão presidencial. Os rumos dos petistas terão forte impacto sobre a dinâmica da
campanha e, é óbvio, sobre os resultados eleitorais.

Afinal, para onde vai o PT?

Hipótese 1 - o PT insiste na candidatura Lula: favorito nas pesquisas de intenção de
voto, Lula, apesar de preso, segue como referência máxima do partido. A mais recente
pesquisa do DataFolha atesta isso. De acordo com o levantamento, o ex-presidente
receberia até 31% dos votos em primeiro turno, e venceria com larga vantagem em
todas as simulações de segundo turno. Na cabeça das lideranças petistas, a
manutenção do nome de Lula é uma realidade. Mesmo preso e não se enquadrando
na Lei da Ficha Limpa, o ex-presidente pode ser apresentado como candidato do
partido. No caso, o PT aguardaria o julgamento pelo TSE e apostaria até em uma vitória
naquela Corte. A campanha, de todo modo, estaria nas ruas, angariando simpatizantes
e votos. Esse cenário não pode ser descartado.

Hipótese 2 - o PT lança um "plano B": quadros no partido não faltam para a disputa
presidencial. Fernando Haddad, Jaques Wagner, Patrus Ananias, até mesmo Celso
Amorim, todos flertam com a possibilidade de serem os herdeiros de Lula e
representarem o partido no pleito. No entanto, a questão está longe de ser simples.
Por mais popular que seja Lula, não existe transferência automática de votos. Indo
além, todos os potenciais candidatos precisam se tornar nacionalmente conhecidos
em curtíssimo espaço de tempo. A pesquisa DataFolha, já citada aqui, mostra que
Haddad e Wagner atingem, no máximo, 2% das intenções de voto. Esse nanismo
eleitoral entrará no cálculo político da cúpula petista.

Hipótese 3 - o PT aposta na união da esquerda: nas últimas semanas, as précandidaturas
de Manuela D'Ávila (PCdoB) e de Guilherme Boulos (PSOL) ganharam
visibilidade nacional. A presença dos dois ao lado de Lula momentos antes da prisão do
líder petista, bem como artigo assinado por ambos na Folha de São Paulo, indicam a
existência de algum diálogo no campo da esquerda. No entanto, a consolidação de
uma aliança mais ampla da esquerda não será fácil. O PSOL nasceu de uma dissidência
do PT e até hoje há sequelas decorrentes do processo de criação do partido. Além
disso, o PCdoB sempre operou como um satélite petista e essa aliança obrigaria os
comunistas a mudar radicalmente seu modus operandi, operação nada trivial. Por fim,
é difícil imaginar o PT abdicando da disputa para apoiar uma chapa na qual seria
coadjuvante. Assim, essa união é pouco provável.

Hipótese 4 - o PT apoia Ciro Gomes: no momento, são remotas as chances de o PT
apoiar a candidatura do neopedetista. De um lado apresenta-se um partido
hegemônico por natureza, o PT; de outro, um político de personalidade forte e
comportamento mercurial. Por mais que as agendas e projetos de ambos coincidam,
os obstáculos à efetivação de uma aliança serão enormes. Uma chapa Ciro-PT (com um
nome petista na vice) ocorrerá somente em último caso.

É importante ressaltar que o pano de fundo da situação vigente é uma pré-campanha
absolutamente fragmentada, com muitos nomes e poucos projetos apresentados ao
eleitorado. Não apenas a esquerda, mas centro e direita igualmente buscam
candidatos competitivos. No momento, a especulação comanda o jogo.

De concreto, sabe-se que o PT que emergirá das urnas será diferente daquele que hoje
conhecemos. O partido será obrigado a fazer uma profunda autocrítica e, mais que
isso, buscar uma reformulação real. Do contrário, poderá dar inicio à uma caminhada
para a vala da irrelevância política.

André Pereira César
Cientista Político

Comments are closed.