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O projeto político de João Dória

Nos últimos anos, o tucano João Dória vem colecionando importantes vitórias na cena política. Em 2016, contrariando as expectativas, conquistou a prefeitura paulistana. Após curta e polêmica gestão, venceu a disputa pelo governo do estado de São Paulo. Logo a seguir, com o ocaso de lideranças históricas do PSDB, assumiu o controle do partido. Hoje, ele dá as cartas.

Apenas para relembrar, Dória ingressou no PSDB pelas mãos do então governador Geraldo Alckmin, com quem posteriormente rompeu. Agora, ele ensaia novo rompimento, dessa vez com o prefeito paulistano Bruno Covas, que assumiu o posto após Dória deixar o comando da capital. Há fortes sinais de que esse processo esteja em curso.

Ao falar na possibilidade de disputar a reeleição, o presidente Jair Bolsonaro antecipou o processo sucessório - de maneira legítima dadas as regras vigentes, diga-se. Porém, desde que assumiu a prefeitura da maior cidade do país, Dória já move suas peças de olho no Planalto. Um processo lento, seguro e gradual, e anterior às manifestações de Bolsonaro.

As ações do tucano reforçam a percepção de que a presidência da República está em seu radar. Um exemplo claro foi a aproximação com o DEM - em especial do prefeito de Salvador, ACM Neto, e do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Fala-se, por sinal, na possibilidade desse último integrar a chapa com Dória, na condição de vice.

Ainda sobre o DEM, não está descartada uma fusão da legenda com o PSDB. No entanto, essa é uma questão complexa, que demandará sofisticado trabalho de engenharia política. Algo para o futuro, não para agora.

O governador paulista também tenta trazer para seu barco novas lideranças políticas. Um dos alvos é o PSL, partido do presidente Bolsonaro. Sem consistência ideológica alguma, a agremiação pode perder para o PSDB nomes como os dos deputados paulistas Alexandre Frota e Joice Hasselmann, hoje figuras de destaque no Congresso Nacional. Sondagens já foram realizadas.

No âmbito da reforma da Previdência, Dória liderou os governadores em defesa da proposta do Planalto mesmo antes desta ser encaminhada ao Congresso. Como estados e municípios, por ora, ficaram de fora do texto, o tucano já solicitou ao secretário de Fazenda e Planejamento do estado, Henrique Meirelles, que prepare uma proposta a ser apresentada à Assembleia Legislativa. Como se vê, o governador quer se antecipar aos fatos.

Por fim, o tucano tem circulado pelo exterior, defendendo não somente os interesses de São Paulo, mas também apresentando-se ao establishment político e econômico de países centrais. Recentemente, ele esteve na Inglaterra, onde assinou acordos. Em agosto, irá à China para inaugurar escritório comercial do estado em Xangai - o primeiro do gênero.

Está claro que João Dória é pré-candidato à presidência em 2022. Por ora, ele segue próximo do presidente Bolsonaro, mas essa relação pode terminar em breve. É importante notar que ambos disputam a mesma faixa do eleitorado. Em relação ao atual titular do Planalto, o tucano apresenta um modelo liberalizante à moda do ministro Paulo Guedes, mas sem a agenda de costumes de Bolsonaro (que afasta parcela significativa dos eleitores).

O primeiro grande teste para Dória será o pleito municipal do próximo ano. Caso seus aliados sejam bem sucedidos, ele dará importante passo rumo a 2022.

André Pereira César

Cientista Político

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