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O jogo político dos partidos

O mundo político vive dias de intensa movimentação. Os partidos colocaram em curso um processo de reconfiguração das legendas. As mudanças fazem parte da estratégia das agremiações e dos atores políticos e terão impacto sobre as eleições do próximo ano.

No campo da centro-esquerda, o PSOL perdeu dois importantes nomes. O ex-deputado Jean Wyllys ingressou no PT e o deputado Marcelo Freixo filiou-se ao PSB. Em ambos os casos, a estrutura partidária falou mais alto. Freixo, em especial, pretende construir uma frente ampla para disputar o governo do Rio de Janeiro.

Outra liderança que migrou para o PSB é o governador do Maranhão, Flávio Dino, até então no PC do B. Ele pretende disputar o Senado Federal em 2022 e avalia que sua atual legenda não lhe dava as condições necessárias para vencer a disputa. Dino, cabe lembrar, é nome sempre lembrado para a sucessão presidencial, o que lhe confere peso político extra.

O PSB, por sinal, trabalha para disputar com o PT a condição de força política mais relevante da centro-esquerda. Assim, novas filiações de peso são esperadas a curto e médio prazos.

A centro-direita também passa por mudanças importantes. O PSDB paulista acaba de receber em suas fileiras o vice-governador, Rodrigo Garcia, até então no DEM. A troca gerou atritos entre as duas legendas, historicamente próximas, e já deixou sequelas. O presidente nacional do DEM, ACM Neto, acusou o governador João Dória (PSDB) de manipular Garcia - as declarações do líder baiano praticamente inviabilizam uma aliança entre os dois partidos em 2022.

Ainda sobre ACM Neto, ele finalmente expulsou o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Ao final, Maia chamou o baiano de “Torquemada Neto”, deixando claro que o rompimento é definitivo.

A exemplo de outras lideranças, como o prefeito Eduardo Paes, Maia deverá migrar para o PSD. A agremiação de Gilberto Kassab segue ganhando musculatura política e tem outros nomes no radar, entre eles o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, hoje no DEM e com projetos eleitorais mais elevados - disputar o governo mineiro ou, menos provável, a presidência da República como o nome da chamada terceira via.

Mais à direita, o PSL deve perder outro importante quadro. A deputada Joice Hasselmann anunciou que está deixando o partido por este manter a “escória bolsonarista” em suas fileiras. A legenda comandada por Luciano Bivar, que elegeu a maior bancada federal em 2018, enfrenta grave crise e corre o risco de voltar a ser um partido nanico. Uma versão atualizada do PRN de Fernando Collor de Mello.

Por fim, todo esse quadro deságua no presidente Jair Bolsonaro, que ainda não definiu o partido ao qual se filiará. O Patriota aguarda o ingresso do titular do Planalto e já recebeu em suas fileiras o senador Flávio Bolsonaro. A agremiação, porém, está rachada e mudanças de rota não surpreenderiam. Bolsonaro, aliás, não é homem de partido, como a história mostra.

A polarização entre Lula e Bolsonaro está levando os partidos a revisar as estratégias para 2022. Ao invés de gastar boa parte dos recursos do fundo eleitoral em uma campanha presidencial, essas agremiações deverão investir em candidaturas viáveis para a Câmara dos Deputados. Assim, eleger uma bancada forte e, consequentemente, aumentar os fundos partidário e eleitoral, além de ter maior peso nas decisões do Congresso Nacional, passa a ser o objetivo final. As mudanças partidárias de agora reforçam essa percepção.

André Pereira César
Cientista Político

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