O jogo político de Arthur Lira - Política - Hold Assessoria

O jogo político de Arthur Lira

Mesmo longe do comando formal da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL) segue exercendo grande influência sobre seus pares. Atuando nos bastidores, mas não só, suas ações têm se baseado em um cálculo politico preciso, incomodando inclusive alguns colegas.

Aos fatos. Após dois mandatos como presidente da Câmara (quatro anos somados), o parlamentar desenvolveu uma capacidade de negociação e articulação similar a outros grandes nomes da política. Aprendeu, ao longo dos seus dois mandatos, a não agir “com o fígado” e, ao compreender as nuances do cargo, ganhou força e destaque entre os seus pares. Desde que deixou o posto, em fevereiro último, ele acumulou posições formais e também informais, todas de peso.

No plano formal, em março ele foi um dos “convidados especiais” do presidente Lula (PT) na viagem oficial ao Japão. Na ocasião, o titular do Planalto foi claro. Em suas palavras “eu trouxe os antigos porque rei morto não é rei posto. Rei é sempre rei”. Ressalte-se aqui que o ex-presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), também integrou a comitiva.

Essa viagem, que registrou uma conversa direta com Lula, foi o embrião para que Lira assumisse a relatoria de um projeto de lei essencial para o Planalto, o que concede isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil. No limite, o governo ficou nas mãos do político alagoano, para o bem e para o mal.

Tudo caminhava bem e de acordo com o script, até o recesso parlamentar. Com o advento da taxação imposta pelo autocrata Donald Trump ao Brasil, o mundo da politica entrou em ebulição e os oportunistas aproveitaram as oportunidades. Aqui, Lira colocou as cartas na mesa ao anunciar que o projeto deverá ser apreciado entre setembro e dezembro, pressionando o calendário governista, apesar das declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos/PB), de que o projeto pode ir a Plenário já nos próximos dias. Como se sabe, a proposição tem grande impacto eleitoral e, para entrar em vigor já no próximo ano, precisará estar sancionada até 31 de dezembro. Lembremos, 2026 vem aí.

Nos bastidores, o ex-presidente da Casa tem reforçado o peso e o prestígio políticos, o que tem incomodado seu sucessor, Hugo Motta. Ainda sobre a questão do IR, ele tem sido procurado por diversas frentes parlamentares em busca de orientação. Também o mundo econômico (Febraban, FIESP, Faria Lima, entre outros), preocupado com os rumos da economia brasileira, escuta com atenção as considerações do deputado de Alagoas.

Nessa seara, outra ação do ex-presidente chamou bastante a atenção. Deixando Motta de lado, lideranças de oposição buscaram ajuda de Lira para que um acordo fosse selado e os deputados bolsonaristas desocupassem a Mesa Diretora, no chamado “dia do motim”, 7 de agosto passado. Nas palavras de um parlamentar, “o café de Motta é frio e o de Lira sempre foi quente”.

Enfim, o ex-presidente da Câmara revelou-se um hábil político, destacando-se de seus pares por sua capacidade de ler a conjuntura. Pré-candidato ao Senado na disputa do próximo ano, ele deverá manter o estilo na Câmara Alta, caso eleito.

André Pereira César

Cientista Político

Comments are closed.