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O jogo de Bolsonaro

Até recentemente, muito se falava sobre a suposta falta de apetite do presidente Jair Bolsonaro em pensar na reeleição. Agora, os movimentos dele indicam o contrário. O titular do Planalto já ensaia os primeiros passos visando as eleições de 2022.

Os sinais são claros e envolvem potenciais adversários no processo sucessório. Ministros e governadores, hoje aliados, já sentem a ação do presidente. A faixa da centro-direita é objeto de disputa.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, é um possível candidato à sucessão. Ele ganhará força política caso a reforma da Previdência seja aprovada e a economia retorne aos trilhos, com recuperação do PIB, retomada do desenvolvimento e queda do desemprego. Por conta disso, Bolsonaro deixou claro que há limites para a ação do ministro. Tempos atrás, o presidente vetou reajuste do preço do diesel,  indo contra Guedes. Agora, a saída de Joaquim Levy do BNDES mostrou que Bolsonaro sempre terá a palavra final. As mãos do ministro estão atadas.

Situação similar vive o ministro da Justiça, Sérgio Moro. Seu pacote anticrime, apresentado há meses ao Congresso Nacional, jamais empolgou o presidente. Os recentes vazamentos de conversas de Moro com procuradores da Lava Jato, por sua vez, deixaram o ministro no corner. Bolsonaro, ao dizer “não confiar 100%” em Moro, distancia-se do ministro e lava as mãos. Caso surjam fatos novos em torno do caso, ele poderá simplesmente se livrar de Moro, como já fez em recentes episódios.

O caso dos governadores é um pouco mais complexo. Bolsonaro precisa do apoio deles para fazer avançar sua agenda, em especial a reforma da Previdência. No entanto, o protagonismo de João Dória (PSDB/SP) e Wilson Witzel (PSC/RJ) precisa ser contido. Assim, o presidente capitalizará os êxitos, e as derrotas serão colocadas nas contas dos chefes estaduais.

É evidente que a tática de Bolsonaro embute riscos. Em larga medida, o bom desempenho de seus ministros é positivo para o governo como um todo. Igualmente os governadores. Hoje aliados, podem gerar problemas em um futuro próximo. Ao presidente resta calibrar seus atos, sob risco de se isolar no Planalto.

André Pereira César

Cientista Político

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