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O dilema de Moro

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, é um ator político singular. Na esteira da Lava Jato, ele inicialmente foi alçado ao panteão dos “heróis nacionais” por parte da imprensa e setores da opinião pública. Depois, tão logo encerradas as eleições de 2018, aceitou o convite de Jair Bolsonaro para assumir a pasta que hoje ocupa. Desde janeiro, porém, acumula derrotas tanto no Executivo quanto no Congresso Nacional - perda do Coaf para o Ministério da Economia, desidratação de seu pacote anticorrupção, atritos com o presidente da República.

Nesse processo, o vazamento de conversas entre o atual ministro com integrantes da Lava Jato apenas contribuiu para corroer um pouco mais o prestígio de Moro. Ele, no entanto, continua sendo o integrante do governo melhor avaliado, conforme atestou recentemente o Datafolha.

De acordo com o levantamento, 54% avaliam como “ótimo ou bom” seu trabalho à frente da pasta. Apenas 20% consideram “ruim ou péssima” sua gestão. Em comparação, o ministro da Economia, Paulo Guedes, o segundo melhor avaliado, tem 38% de aprovação.

O contraste é ainda maior quando se comparam os números do ministro da Justiça com os do presidente Bolsonaro, com aprovação em queda acentuada. Segundo a pesquisa, o titular do Planalto tem sua administração aprovada por apenas 29% dos entrevistados. Essa discrepância entre as avaliações aumenta ainda mais os problemas de Moro.

É de conhecimento geral o estilo do presidente governar. Apoiado (e influenciado) por seus filhos, Bolsonaro não se furta a afastar auxiliares que o incomodem de alguma maneira. Assim se deu com Gustavo Bebianno, Carlos Alberto dos Santos Cruz e Joaquim Levy, entre outros, que, por desagradar o presidente, foram demitidos.

O caso de Moro é ainda mais grave porque seu relativo sucesso deixa no clã Bolsonaro o sentimento de que um poderoso adversário pode estar em gestação no primeiro escalão do governo. Assim, explicam-se em larga medida os atritos entre o presidente e o ministro - a recente interferência de Bolsonaro na Polícia Federal e as declarações de Bolsonaro chamando Moro de “ingênuo” levaram a situação a um ponto crítico. O último episódio foi a escolha, por Bolsonaro, de Augusto Aras para o cargo de Procurador Geral da República, sem levar em consideração as conversas travadas com Moro. Não se sabe até quando esse quadro persistirá.

“Qual caminho seguir?”. Eis o dilema do até agora ministro da Justiça, que sabe estar com a cabeça a prêmio. Continuar a sofrer o processo de fritura? A situação de Moro é tão frágil e exposta, que até mesmo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em recente entrevista, afirmou que “se estivesse lá, me demitiria”. Caso deixe o governo, ele ficará na chuva, com poucas opções. A principal delas seria aproximar-se do governador paulista João Dória (PSDB), que já emitiu sinais a Moro. Essa troca, porém, seria uma espécie de “seis por meia dúzia” - assim como Bolsonaro, o tucano também é pouco afeito ao cumprimento de acordos.

Enfim, a capacidade de resiliência do titular da Justiça continuará a ser testado pelos próximos dias.

André Pereira César

Cientista Político

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