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Notas políticas da segunda semana de recesso

A exemplo da semana passada, os últimos dias foram marcados por intensa movimentação política, apesar do recesso parlamentar.

Analisando as atuais tensões comerciais e incertezas, o FMI revisou para baixo a previsão de crescimento do PIB mundial. Em relatório, a instituição rebaixou em 0,1 ponto, passando de 3,3% para 3,2%. O caso brasileiro ainda é pior - a previsão caiu em 1,3 pontos, passando agora a 0,8% em 2019.

O governo anunciou a liberação de quinhentos reais por ano das contas do FGTS. A medida é emergencial e tem como objetivo ajudar na retomada da economia. Economistas criticaram a decisão do governo. Segundo muitos deles, o efeito geral na economia será pouco mais que inócuo e não solucionará os problemas estruturais do Brasil.

Operação da Polícia Federal prendeu quatro supostos hackers na cidade de Araraquara, interior de São Paulo. Eles teriam clonado os celulares do presidente Bolsonaro, do ministro Sérgio Moro e de mais centenas de autoridades dos três Poderes. A questão ainda tem muitas peças soltas, que necessitam de investigação mais aprofundada. De todo modo, grupos aliados e contrários ao governo partiram para a defesa de suas posições, aumentando ainda mais o já polarizado ambiente político no país.

O Congresso Nacional se prepara para um dos mais importantes embates no segundo semestre, a reforma tributária. Serão três propostas em análise - uma na Câmara dos Deputados, outra no Senado Federal é uma terceira ainda em preparação pelo governo. A mais recente novidade foi a declaração do presidente Bolsonaro em Manaus na última quinta-feira, 25 de julho, na qual defendeu a manutenção dos benefícios concedidos à Zona Franca. Esse será um dos pontos polêmicos da questão.

O presidente Bolsonaro criticou duramente o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que divulgou estudo mostrando o aumento do desmatamento na Amazônia. Ele afirmou que o órgão é aparelhado por ONGs. A resposta foi igualmente dura. O presidente da instituição, Ricardo Galvão, rebateu as denúncias e afirmou que não deixará o cargo. O conteúdo ideológico do governo se fez presente em mais esse episódio.

Em vídeo registrado na quinta-feira, 25 de julho, o presidente Bolsonaro fala em extinguir a Ancine. A agência, que tem peso na produção de audiovisual no país, já teve sua sede transferida do Rio de Janeiro para Brasília. Ele acusou a esquerda de haver aparelhado a instituição. A movimentação mostra o viés ideológico do governo - com sinais trocados em relação às administrações petistas.

De férias no Pará, o ministro da Educação Abraham Weintraub acabou discutindo com populares. Vídeos que circulam na internet mostram o titular da pasta batendo boca inclusive com um indígena. Três meses após sua posse, o ministro coleciona polêmicas.

A Petrobras anunciou a privatização da BR Distribuidora, sua filial para distribuição de derivados de petróleo. Na prática, a medida marca o início da venda de ativos da estatal, que tenta recuperar sua saúde financeira. Representantes dos petroleiros, porém, ingressaram com ação popular contra a venda da empresa. O processo pode levar tempo para ser concluído.

Ainda no âmbito da Petrobras, a empresa se recusou a abastecer dois navios iranianos ancorados no litoral do Paraná há mais de um mês. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, ordenou o imediato abastecimento. A estatal argumentou que o país poderia sofrer retaliação dos Estados Unidos, pois as embarcações estão na lista de sanções ao Irã. Em resposta, o governo iraniano ameaçou suspender a compra de produtos brasileiros, entre eles milho, soja e carne bovina. A posição da Petrobras está em linha com a nova orientação diplomática do Brasil, muito mais próxima do governo norte-americano.

André Pereira César

Cientista Político

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