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Mandetta: um olhar sobre o governo Bolsonaro

Passados seis meses de sua saída do governo, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM/MS) faz uma análise do período em que trabalhou ao lado de Jair Bolsonaro. Em seu depoimento, ele joga luzes sobre o estilo de governar do atual presidente.

O ponto central da análise do ex-ministro está no fato de que Bolsonaro não seria “despreparado”, como muito se apregoa. Na verdade, suas ações e decisões durante a pandemia seriam fruto de cálculo político, uma aposta para o futuro. A reeleição sempre esteve no horizonte. Por ora, esse cálculo se mostra correto no plano político.

Nesse sentido, a defesa da economia, elemento fundamental para qualquer pretensão eleitoral, se fez presente no discurso presidencial. Com a real possibilidade do desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19 a médio prazo, Bolsonaro focou na defesa do desenvolvimento e da manutenção dos empregos. A construção da imagem do salvador da economia brasileira está em curso, com respaldo de boa parte do eleitorado.

Assim, a utilização da cloroquina no combate à pandemia encaixou-se perfeitamente no script. Tendo como referência o presidente norte-americano Donald Trump, Bolsonaro defendeu o uso do controverso medicamento e construiu todo um discurso contra a China, a OMS, sociedade médica e todos aqueles que não apoiassem as medidas apregoadas do Planalto.

Não está errada a afirmação de que, ao contrair a Covid, Bolsonaro teve um golpe de sorte. Recuperado, ele pôde dizer que a doença não seria tão grave. Ponto para os, assim como o presidente, defensores do afrouxamento do isolamento social para sustentação da economia.

O fato é que todo o ambiente de conflito interno registrado por Mandetta no início da pandemia, não foi capaz de afetar a imagem do presidente. Ao contrário, sua popularidade subiu e atingiu o melhor nível desde a posse. A população, ao que tudo indica, comprou a tese do presidente de que os riscos da doença não são elevados - as imagens das praias lotadas em todo o país no feriado do último dia 12 de outubro sintetizam isso. Afinal, qual a razão de se manter o distanciamento social?

Tudo pode mudar para Bolsonaro, porém, quando o auxílio emergencial do governo chegar ao fim. Ou na hipótese, não muito remota ou absurda, do aumento de casos e de mortes por conta do afrouxamento das regras de combate ao coronavírus ou ainda, se a economia não se recuperar até lá, o que é provável dada a dinâmica dos fatos. Em qualquer desses casos, a cobrança popular sobre o presidente pode ser grande. Em se confirmando quaisquer dessas situações, a fatura da pandemia cairá na conta do titular do Planalto.

André Pereira César
Cientista Político

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