Pesquisa divulgada há pouco pelo instituto Quaest reforça a percepção de que o Planalto atravessa um momento de stress com o Congresso Nacional. Trata-se de questão politicamente delicada, que ameaça a agenda governista.
Aos números. De acordo com o levantamento realizado junto aos deputados federais, 46% deles consideram o desempenho do governo Lula (PT) negativo, contra 27% que o avaliam como positivo. No levantamento anterior, realizado em março de 2024, os índices eram, respectivamente, 42% e 32%.
De acordo com a pesquisa, o crescimento da avaliação negativa do governo se dá entre os chamados deputados “independentes” - muitos deles integrantes do Centrão, que ocupa espaços na Esplanada. Aqui, nada de novo, como se viu na recente rejeição ao decreto que aumentava as regras para a cobrança do IOF.
A pesquisa aponta, ainda, que a maioria dos deputados (57%) vê dificuldade para aprovar pautas do governo. Outros 36% dizem que as chances de a agenda de Lula ser aprovada são altas, e 7% não sabem ou não responderam.
Indo além, 68% dos deputados acreditam que o titular do Planalto tentará a reeleição em 2026, contra 21% que avaliam que ele não disputará o pleito. Lembremos que, no entorno do presidente, há quem já aposte que ele desistirá da reeleição.
Ainda nesse quesito, um dado interessante - 35% dos deputados apontam Lula como o favorito à vitória em 2026, mas expressivos 50% apontam um nome da oposição como o potencial vencedor.
No caso, o destaque da oposição é o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), com 49% das citações, seguido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com 13% - inelegível, importante lembrar. Todos os outros nomes aparecem com apenas um dígito.
Em suma, a pesquisa é um retrato fiel da situação atual do governo. O Parlamento, em especial a Câmara dos Deputados, tornou-se território inóspito para o Planalto. À falta de uma articulação politica minimamente consistente e com os eternos problemas de comunicação, o governo seguirá refém do Parlamento que, discretamente (ou nem tanto assim), vai no sentido de alterar à força, o regime político brasileiro para o semipresidencialismo.
André Pereira César
Cientista Político


