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Governo Bolsonaro: Saúde e política

Era inevitável que a demissão do ainda ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, dominasse o debate político, conforme o ocorrido ao longo das últimas horas. A exoneração do general-ministro, esperada há tempos, dá certo fôlego ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Esse fôlego, porém, tem prazo curtíssimo.

Os recentes números acabaram de vez com as dúvidas remanescentes quanto à ação do Planalto no combate à pandemia: a atual gestão está sem rumo. Ultrapassadas as duas mil mortes diárias e com os sistemas estaduais e municipais de saúde em colapso, o pânico se instalou no entorno presidente. O que fazer?

De biombo, Pazuello tornou-se elemento tóxico para o governo. Não existe mais a menor possibilidade de diálogo entre o ministro e os demais envolvidos na questão, em especial os secretários estaduais e municipais de Saúde. O gongo soou para o ainda titular da pasta.

Para piorar ainda mais o quadro, a população já não acredita na capacidade do governo de enfrentar a pandemia. A última pesquisa XP/Ipespe, realizada entre 9 e 11 de março, mostra que 61% dos entrevistados consideram “ruim e péssima” a atuação do governo no combate à COVID-19. Em fevereiro, essa avaliação estava em 53%.

No plano político, o Planalto enfrenta ainda o retorno do ex-presidente Lula ao ringue. Por ora livre das condenações impostas pela Lava Jato, o petista já saiu atirando em Bolsonaro e sua inépcia no enfrentamento da crise. O presidente da República enfrenta uma tempestade perfeita.

De imediato, as soluções são limitadas para o governo. Médicos de renome não aceitam assumir a vaga de Pazuello e a solução encaminha-se para um político - talvez o deputado Dr. Luizinho (PP/RJ), presidente da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados e bastante próximo do presidente da Casa, Arthur Lira (PP/AL). Ou seja, o Centrão reforça seu peso e influência no governo.

Bolsonaro está em uma encruzilhada. O ano perdido no enfrentamento da pandemia começa a cobrar a fatura. A hora de mudar o rumo é agora. Do contrário, o projeto político da reeleição sairá de cena.

André Pereira César
Cientista Político

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