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Governo Bolsonaro: Saúde à deriva

Entre outros pontos importantes, as investigações em curso na CPI da Covid revelaram um quadro de extrema desorganização no ministério da Saúde. Em plena pandemia, ficou evidente que pessoas à princípio estranhas à pasta tiveram livre acesso para atuarem como negociadores para aquisição de vacinas e outros insumos.

O caso do policial militar Luiz Paulo Dominguetti é emblemático. Sua versão dos fatos, reportada pela imprensa e apresentada pelo próprio na sessão de quinta-feira, 1º de julho, da CPI, é no mínimo mirabolante. Supostamente em nome da Davati Medical Supply, ele teria recebido uma proposta de acréscimo de um dólar a cada dose da vacina da Astrazeneca por parte de Roberto Ferreira Dias, diretor do Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde, uma espécie de pedágio.

As informações correntes informam que a farmacêutica, detentora da vacina, não se utiliza de intermediários para vender seus produtos - primeiro ponto sem explicação.

Para piorar, ao tentar desqualificar o deputado Luís Miranda (DEM/DF), autor das denúncias de irregularidades na compra de vacinas pelo ministério, Dominguetti revelou fazer parte de um esquema maior que, no limite, tentava colocar a própria CPI em maus lençóis. Pego no ato, o PM revelou-se um cavalo de Tróia tupiniquim, que não atingiu seu objetivo. Ao contrário, o quadro complicou ainda mais para o governo.

Outro exemplo da desordem vivida pela Saúde vem de uma entidade evangélica, a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários. Seus líderes, apoiadores do titular do Planalto, ofereceram vacinas a estados e municípios. Controle zero por parte dos responsáveis pelo ministério.

Como pano de fundo, aparece a figura do ainda líder do governo, deputado Ricardo Barros (PP/PR). Ex-ministro da Saúde no governo Temer, ele conhece os meandros do sistema, inclusive o funcionamento de laboratórios e farmacêuticas. Sua influência em postos-chave do ministério ajuda a elucidar o quebra-cabeça. Aliás, o parlamentar tornou-se um problema para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que, diga-se, não emitiu uma palavra sequer em defesa do aliado e não desmentiu as falas do deputado Miranda.

A situação é grave e terá inclusive impacto eleitoral. Os adversários do governo têm em mãos farto material para explorar durante a campanha. Afinal, como explicar para a população os fatos ocorridos na pasta em plena pandemia, com centenas de milhares de mortos?

Julho começa com nuvens carregadas no horizonte. O recesso parlamentar, na metade do mês, dará a chance ao governo de respirar. A crise, porém, seguirá viva, e fatos novos poderão aumentar a pressão sobre o Planalto.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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