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Governo Bolsonaro: Precisamos falar sobre as pesquisas

Diferenças metodológicas à parte, a mais recente safra de pesquisas de opinião pública indicam um importante fato - a consistente perda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). As denúncias de corrupção, surgidas a partir da CPI da Covid, atingiram a imagem do titular do Planalto, que precisa urgentemente mudar o curso de sua gestão, sob o risco de ficar sem musculatura política para a sucessão presidencial.

O último DataFolha, realizado nos dias 7 e 8 de julho, confirma a tendência. De acordo com o levantamento, 51% dos entrevistados consideram o governo Bolsonaro “ruim” ou “péssimo”. Em maio, esse índice era de 45%. Por outro lado, são 24% os que o consideram “bom” ou “ótimo”, índice mais baixo da série histórica e idêntico ao registrado em março.

Para piorar, alguns pontos começam a “colar” no presidente. O mesmo DataFolha mostra que 58% dos entrevistados consideram-no “incompetente”, 62% “despreparado”, 66% “autoritário”. O mais grave, porém, está no quesito honestidade - 52% avaliam Bolsonaro como “desonesto”, contra 38% de “honesto”. O mote “governo que não rouba” nitidamente perde força.

Outra pesquisa, confeccionada pelo instituto MDA e patrocinada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), reafirma o cenário. De acordo com o levantamento, cujo campo ocorreu nos primeiros dias do mês, 48% dos brasileiros avaliam o governo como “ruim” ou “péssimo” (35% em fevereiro), enquanto 28% consideram “bom” ou “ótimo”, ante 33% no levantamento anterior.

Inevitavelmente, a avaliação negativa do Planalto tem impacto direto sobre a sucessão presidencial. A mesma MDA/CNT aborda a disputa. Na pesquisa espontânea, o ex-presidente Lula (PT) aparece com 28% das citações, contra 22% de Bolsonaro. Ciro Gomes (PDT) tem apenas 2% das intenções de voto, enquanto João Dória (PSDB) e Sérgio Moro (sem partido) empatam, com 1% para cada.

Na estimulada, o petista teria 41%, contra 27% do titular do Planalto. Gomes e Moro receberiam 6% cada um, e Dória e Luiz Henrique Mandetta (DEM), 2% cada um.

Interessante olhar os índices de rejeição. Bolsonaro lidera, com 62% dos entrevistados afirmando que “não votariam nele de jeito nenhum”. Em seguida aparecem Dória (58%), Moro (57%), Gomes (52%), Mandetta (51%) e Lula (44%). A menor rejeição ao ex-presidente em relação aos demais chega a surpreender, dado o antipetismo corrente em certos setores da sociedade brasileira.

Já a mais recente pesquisa divulgada pela Quaest Consultoria/Banco Genial reafirma o atual favoritismo de Lula na disputa. Em segundo turno, ele venceria Bolsonaro por 54% a 33%. O levantamento simulou ainda cenários em que Bolsonaro disputa com outros adversários. O presidente também perderia para Ciro Gomes (44% a 36%), empataria com Dória (38% a 38%) e com o Mandetta (37% a 36%) e venceria o governador tucano Eduardo Leite (38% a 33%).

Duas constatações saltam aos olhos a partir dos números eleitorais. Em primeiro lugar, Lula vai se consolidando como o único nome, hoje, capaz de derrotar Bolsonaro. Além disso, a chamada “terceira via” patina e não parece capaz de atrair o eleitor. O grupo precisa revisar suas estratégias para ter alguma chance de êxito em 2022.

O velho chavão vem à tona -“pesquisas são um retrato de momento, podendo sofrer alterações a todo instante”. Na prática, as eleições de 2022 ainda estão distantes. No entanto, sem uma correção efetiva de rumo, o presidente da República pode chegar sem forças a outubro do próximo ano. Pior, pode se tornar efetivamente disfuncional para o atual grupo no poder antes disso. O alerta está dado.

André Pereira César
Cientista Político

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