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Governo Bolsonaro: Meio Ambiente na berlinda

Pedra no sapato do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), a questão ambiental voltará ao centro das atenções nos próximos dias. A reunião de cúpula convocada pelo presidente norte-americano Joe Biden poderá ser a última chance para o Brasil se reposicionar perante a comunidade internacional e deixar a condição de pária, que chegou a ser – equivocadamente – festejada pelo ex-chanceler Ernesto Araújo.

Os riscos de que nada mude, porém, são grandes. Aliás, é o que se espera. A carta recheada de boas intenções enviada pelo titular do Planalto a seu colega já era, por si só, insuficiente para dissipar a desconfiança geral em relação às intenções brasileiras com relação ao tema. A ela seguiu-se o imbróglio envolvendo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que saiu em defesa de “empresários” flagrados pela Polícia Federal com madeira extraída ilegalmente. Tudo com o aval de Bolsonaro, diga-se. O que já era ruim piorou bastante.

Some-se a isso a realidade atestada pelos números. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento na Amazônia bateu novo recorde em março último – 12% a mais que no mesmo período de 2020 e o maior nos últimos seis anos. Além disso, a estação das chuvas na região está chegando ao fim e a temporada de queimadas se iniciará em breve. Mais notícias ruins no horizonte.

Por sinal, o governo brasileiro segue entre recuos reais e promessas de avanço. Um dos compromissos assumidos por Bolsonaro na carta a Biden é eliminar o desmatamento ilegal até 2030. Essa, na verdade, foi a meta apresentada pelo país em 2015 na assinatura do Acordo de Paris, ainda na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), mas foi retirada do programa de governo pelo atual presidente. Igualmente o recente pedido de ajuda financeira para o meio ambiente, após desdenhar os recursos do Fundo Amazônia, que tem mais de R$ 2 bilhões em caixa e que não estão sendo utilizados, mostra Bolsonaro perdido em suas ações.

Não surpreende, portanto, a carta enviada por um grupo de senadores democratas a Biden. Nela, os parlamentares manifestam “preocupação com a aceleração da destruição da Amazônia” e apoiam esforços do governo norte-americano para promover cooperação com o Brasil na área. O documento, porém, adverte que isso só será possível caso Bolsonaro encare os compromissos climáticos brasileiros com seriedade. Motivos para desconfiança não faltam.

O fato concreto é que, desde sua posse, o presidente da República menospreza a questão ambiental e, no limite, segue desmontando todo o aparato institucional construído ao longo de muitos anos. A área de fiscalização foi a mais atingida. O Brasil deixou de ser referência e hoje começa a pagar a conta dos desmandos na área.

Dois pontos merecem atenção especial. Em primeiro lugar, o destino do ministro Salles será importante indicativo das reais intenções de Bolsonaro com relação à agenda ambiental. Caso mantenha o comandante da pasta, as atuais diretrizes dificilmente serão mudadas. Demitindo-o, sinalizará que alterações de rota serão possíveis.

O segundo ponto diz respeito à sucessão presidencial. No Brasil, historicamente a política externa é um tema pouco explorado entre os candidatos a presidente, impactando marginalmente os resultados finais dos pleitos. A crise ambiental poderá mudar isso em 2022 – os candidatos tentarão mostrar ao eleitor serem capazes de recuperar o prestígio perdido pelo Brasil no plano internacional.

Enfim, o titular do Planalto não tem mais espaço para retórica. Como disse John Kerry, representante norte-americano para mudanças climáticas, espera-se do Brasil a produção de resultados tangíveis. O tempo corre contra Bolsonaro, que precisa passar ao plano das ações concretas.

André Pereira César
Cientista Político

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