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Família

“Família”. A justificativa do presidente Jair Bolsonaro para o Planalto interferir na Polícia Federal esgarçou ainda mais as já delicadas relações entre os três Poderes. O episódio, como se sabe, resultou na queda do então ministro da Justiça, Sérgio Moro, e deverá, em tese, trazer consequências danosas para o mundo político.

O que se sabe a respeito da já famosa reunião ministerial de 22 de abril último é grave por si só. Nela, o presidente pressionou por ter o controle da superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, sob o pretexto de proteger seus familiares e amigos. Ao final da queda de braço, Moro deixou o governo.

Agora, as frentes de conflito estão definitivamente abertas. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, o presidente Rodrigo Maia (DEM/RJ) deverá receber pressão extra de seus pares para colocar em pauta ao menos um dos mais de trinta pedidos de afastamento de Bolsonaro. Não se sabe qual será a reação do parlamentar.

No âmbito do Judiciário, a questão é ainda mais complexa. O Supremo Tribunal Federal poderá tomar novas medidas restringindo atos do presidente e, mais ainda, colocar em definitivo o titular do Planalto contra a parede. Já o Tribunal Superior Eleitoral tem condições de julgar uma das ações contra a chapa vencedora nas eleições presidenciais de 2018. Hoje, tudo é possível.

A opinião pública também emite sinais de que a paciência com o presidente está se esgotando. A última pesquisa CNT/MDA, cujos resultados foram divulgados na terça-feira, 12 de maio, mostram que a avaliação negativa de Bolsonaro subiu doze pontos percentuais em quatro meses, passando de 31% para 43%. Muito disso é fruto direto das ações do presidente no enfrentamento da crise do novo Coronavírus.

O fato é que Bolsonaro fez subir um pouco mais a temperatura da crise política. Não bastassem suas aparições em público, sem proteção alguma, e as participações em eventos contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, suas declarações de abril podem vir a colocar seu mandato em xeque.

Não se trata ainda de um xeque-mate, vale lembrar. No entanto, o presidente da República, ao se portar dessa forma, vulgariza a cadeira na qual está sentado. Com isso, ele diminui seu peso político e, no limite, perde autoridade. Um presidente meramente decorativo.

André Pereira César

Cientista Político

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