Eleições 2022: observadores internacionais* - Política - Hold

Eleições 2022: observadores internacionais*

É fato que, a partir da redemocratização, no final da década de oitenta, as eleições tornaram-se corriqueiras no Brasil. A cada dois anos a população vai às urnas para escolher seus representantes. Podemos afirmar que o brasileiro se “acostumou” a votar.
 
O processo eleitoral de 2018, para muitos analistas, apesar de ter fugido do script, ocorreu e foi finalizado sem maiores sobressaltos. No entanto, o que se observa na eleição de 2022, definitivamente, é um ponto fora da curva. A corrida eleitoral em curso foge aos padrões e, no limite, coloca a democracia brasileira sob ameaça. O atual grupo no poder, pouco afeito às regras democráticas e com reais chances de ser derrotado no pleito de outubro, partiu para o ataque sistemático às instituições e à Justiça Eleitoral. Jogo bruto, que obrigou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a permitir a atores externos entrarem em ação para garantia de que o resultado das urnas seja, ao final, respeitado.
 
Os observadores internacionais, por meio de grupos organizados, representando entidades das mais diversas, circulam por Brasília desde o início de agosto, conversando com autoridades e especialistas, coletando informações para embasar relatórios que servirão de base para futuras ações, caso necessário.
 
Em linhas gerais os observadores são bastante técnicos e não expressam seus posicionamentos políticos. Mesmo assim, fica clara a preocupação com o conturbado ambiente político e para a possibilidade de conflitos daqui até o primeiro turno. Uma das questões levantadas diz respeito ao posicionamento das Forças Armadas, que estão tendo um protagonismo inédito na cena sucessória.
 
O comportamento mercurial do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus aliados mais íntimos igualmente é objeto da atenção dos observadores externos. Por vezes, é difícil explicar a um estrangeiro (mesmo bem informado) as motivações para os frequentes ataques do Planalto ao sistema. A própria democracia, desse ponto de vista, como dito alhures, parece fragilizada.
 
Importante notar que, ao longo dos anos, o sistema eleitoral brasileiro tornou-se referência global em termos de segurança e transparência. Sob o governo Bolsonaro, foi colocado em curso um plano de se questionar o resultado das urnas, não importando o resultado. Ganhando ou perdendo, Bolsonaro e sua trupe levantaram suspeitas sobre isso ou aquilo. Simples assim.
 
Importante dizer que essa parcela mais radical e ideológica do governo e de seus apoiadores visa colocar em xeque tudo o que foi conquistado até aqui, num verdadeiro retrocesso, quando exigem, com o aval do ministro da Defesa, a volta dos votos impressos, sob a falácia de que as urnas eletrônicas, utilizadas desde 1996 e sem qualquer comprovação de fraude, não são seguras ou auditáveis. O futuro imediato, portanto, é incerto.
 
Após a redemocratização, o Brasil passou por dois processos de impeachment, atravessou crises políticas graves e transições de poder absolutamente cristalinas e seguras. A rigor, os observadores internacionais, que pela primeira vez participam de forma oficial e sob a chancela da estrutura oficial do Estado, deveriam apenas fiscalizar e, ao final, dar o certificado da lisura completa do processo eleitoral.
 
Por conta dos sistemáticos ataques perpetrados pelo presidente da República, hoje, a realidade é outra. A presença desses grupos de observação torna-se mais um elemento a se somar para a blindagem das eleições de outubro, uma espécie de garantia internacional de que a escolha do eleitor seja respeitada e que o eleito seja empossado, seja ele quem for.
 
André Pereira César
Cientista Político

 
Alvaro Maimoni
Consultor Jurídico

 
*Tema da live de 4 de agosto de 2022, disponível em nosso canal no YouTube.

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