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Economia: definição de prioridades

Era inevitável: a campanha eleitoral já em curso levou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a buscar uma agenda econômica positiva para ganhar espaço junto a nichos do eleitorado. O objetivo é atender demandas de diferentes setores e, assim, obter dividendos políticos. A sucessão presidencial é logo ali.

Esse “pacote de bondades”, porém, esbarra nas restrições orçamentárias por conta do teto de gastos, que piorou em função da pandemia. Assim, ao governo será necessário definir as prioridades - e administrar a insatisfação dos setores não contemplados.

Um tema politicamente sensível e mobilizador diz respeito ao Bolsa Família. Historicamente vinculado ao ex-presidente Lula (PT), hoje o principal adversário de Bolsonaro, o programa pode sofrer alterações importantes. Não somente o nome será mudado, mas os valores corrigidos. Dos atuais R$ 190, o montante poderá chegar a R$ 300 mensais para cada beneficiário, segundo o titular do Planalto.

A proposta do presidente não encontra, por ora, respaldo na equipe econômica, que trabalha com a estimativa de R$ 250 mensais. Aqui, há um nítido descompasso entre Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes. O lado populista do governo, com olhos apenas na reeleição, não se importa com o descontrole das contas públicas. Importante aqui defender que o Bolsa Família tem e deve ser melhorado e ampliado, mas com a devida responsabilidade e não apenas para fins eleitoreiros. A ampliação e, depois de passada a eleição, a retirada sem critérios dos beneficiários, nesse caso, causará mais danos do que ganhos porque essa parcela da população mais vulnerável se verá, de uma hora para outra, totalmente desamparada.

O funcionalismo público, que tem forte peso político e é crítico do governo, pode ser beneficiado com um reajuste de 5% no próximo ano. A medida estaria em estudo pela área econômica e, a princípio, não estava nos planos de Guedes. Mais um foco de desentendimento na atual administração.

Também o imposto de renda está na mira de Bolsonaro. Deverá ser encaminhado em breve ao Congresso Nacional um projeto de lei aumentando a faixa de isenção do IR, atualmente em R$ 1,9 mil. Um agrado para a classe média, contingente importante do eleitorado.

Os caminhoneiros, alinhados desde a campanha eleitoral de 2018, dão sinais de insatisfação e mais uma vez ameaçam com paralisações por todo o país. O saldo final é previsível - pressionado, Bolsonaro pode conceder isenções para a categoria, sem contrapartidas. Derrota iminente para a economia.

A equipe econômica, como se vê, fica com reduzida margem de manobra diante dos interesses eleitorais. O discurso liberal e de controle fiscal da campanha de 2018 rapidamente se transformou em uma miragem e o ministro Paulo Guedes se distancia mais e mais do “Posto Ipiranga”. A Guedes, se Bolsonaro insistir nessa toada meramente eleitoreira e populista, só restará decidir entre quais as prioridades serão ruins ou menos ruins.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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