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Direita em transe

A morte do polêmico Olavo de Carvalho, astrólogo que se apresentava como filósofo e exercia forte influência sobre setores do bolsonarismo, em especial e principalmente sobre o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL/SP), marca um momento de ruptura na direita brasileira. O grupo, que chegou ao poder em 2018 com o presidente Jair Bolsonaro (PL), já vivia um processo de divisão interna. Sem Carvalho, esse quadro pode se agudizar.

As fissuras na direita tiveram início com o ingresso do Centrão no governo. Durante a campanha presidencial, Bolsonaro e seus então principais aliados e colaboradores atacaram duramente o bloco. Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, chegou a afirmar que “quando o coro comer para valer, quero ver se vocês vão se deixar seduzir pelo discurso do Centrão ou vão se manter firme e forte com Bolsonaro”. À época, não havia espaço para diálogo.

O titular do Planalto teve de se render à realidade e, hoje, o Centrão é a principal pilastra a sustentar o governo. O próprio Bolsonaro filiou-se ao PL, em uma clara demonstração de pragmatismo visando a sua sobrevivência à frente do governo.

O custo político desse movimento foi elevado para o chamado “grupo ideológico” de colaboradores de Bolsonaro. Os ex-ministros Abraham Weintraub e Ernesto Araújo, discípulos de primeira hora de Olavo de Carvalho, sinterizam à perfeição essa ala do governismo, e não por acaso ambos voltaram suas artilharias contra o Planalto após perderem seus cargos. O resultado, é claro, foi um racha que já afeta inclusive e diretamente, o clã Bolsonaro.

O presidente e seu filho deputado federal entraram em choque, com trocas de acusações mútuas sobre quem seria o responsável pela entrada de Weintraub no governo.

Para além do embate familiar, há sinais de que o eleitorado bolsonarista pode se dividir por conta da briga interna. Weintraub já circula pelo interior de São Paulo e sua candidatura ao Senado Federal ou ao governo estadual ganha força entre essa ala mais radical dos então eleitores de Bolsonaro. Há o risco real de seu nome retirar votos dos candidatos formalmente apoiados por Bolsonaro. Melhor para os adversários.

Outros nomes relevantes da ala ideológica, como o blogueiro Allan dos Santos, outro discípulo de Carvalho, também partiram para o ataque. A palavra “traição” tem sido usada com frequência contra Bolsonaro e seus novos aliados.

A conflagração na direita reflete o quadro de dificuldades enfrentado por Bolsonaro, que patina nas pesquisas de intenção de voto. A saída de cena do “guru” cria um vácuo e o grupo ideológico tende a se tornar mais barulhento ao longo dos próximos meses. Pior para o titular do Planalto. Melhor para os seus adversários.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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