Depois do 7 de setembro - Política - Hold

Depois do 7 de setembro

Algumas questões relevantes precisam ser abordadas, passado o tenso e tumultuado 7 de setembro de 2021.

. Com relação ao impeachment, o tema retorna ao debate com o apoio de legendas como o PSDB, DEM, PSD, Cidadania, Solidariedade e MDB. Juntando os parlamentares desse grupo a integrantes de outros partidos, em tese, haveria número suficiente para a abertura do processo de afastamento de Bolsonaro. Seria a grande chance da chamada terceira via.

. Os petistas e seus aliados, por sua vez, não desejam o impeachment. Para Lula será fundamental a manutenção de Bolsonaro no jogo, dado que o titular do Planalto seria um adversário frágil no pleito do próximo ano.

. Ainda sobre o impeachment, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, enfrenta um dilema - apoiar o afastamento de Bolsonaro e juntar-se de vez à terceira via ou deixar a bola rolar e aliar-se a Lula, com quem inclusive já trabalhou, mais à frente?

. Uma última implicação do impeachment diz respeito ao vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB). Seria no mínimo inusitado o fato de se ter um general, mesmo que da reserva, alçado ao posto de “fiador” da democracia. Além disso, não se conhecem as reais intenções de Mourão, que tem sido uma esfinge ao longo do governo Bolsonaro.

. Uma alternativa a Mourão, defendida pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), ainda que de forma reservada, seria a cassação da chapa Bolsonaro/Mourão via Tribunal Superior Eleitoral. Nesse caso, O Congresso conduziria uma eleição indireta para escolha de um nome para um mandato tampão.

. Sintomática foi a decisão do Senado Federal de suspender todas as atividades, presenciais ou virtuais, até o final da semana. Trata-se de um freio de arrumação, para dar tempo e espaço ao presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM/MG), de negociar com as lideranças partidárias qual postura a ser adotada diante das declarações de Bolsonaro.

. Na Câmara dos Deputados, será grande a pressão sobre Arthur Lira. Os caciques cobrarão providências mais efetivas do presidente da Casa contra Bolsonaro. Lira, hoje, balança no apoio incondicional ao governo.

. No âmbito das reformas, é crescente a percepção do mercado (e também do mundo político) de que não há mais ambiente para a votação de matérias relevantes. Administrativa, tributária, imposto de renda, tudo perde espaço ante o cenário macro. Bolsonaro, nesse ponto, não pensou nas consequências de suas palavras.

. No Supremo Tribunal Federal, é esperado o pronunciamento do ministro Luiz Fux. O presidente da Corte deve fazer uma defesa veemente da democracia e das instituições, a começar do próprio Supremo, alvo preferencial dos grupos bolsonaristas.

. No âmbito do Supremo, já é dada como certa que a indicação de André Mendonça à vaga de ministro da Corte foi definitivamente enterrada. Mais um que sofre os efeitos das desmedidas declarações do presidente da República.

. Por fim, Bolsonaro isolou-se de vez. Nenhuma liderança expressiva esteve a seu lado no 7 de setembro, em Brasília ou São Paulo. A anunciada reunião do Conselho da República, que não foi confirmada por autoridade alguma, parece mais um blefe presidencial. O discurso de ruptura só piorou o quadro.

André Pereira César
Cientista Político

Alvaro Maimoni
Consultor Jurídico

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