Depois da Operação Acarajé - Hold

Depois da Operação Acarajé

Alguns analistas e observadores da cena política consideram a mais recente ação da Lava Jato, denominada “Operação Acarajé”, como o marco zero do ano político. De fato, os eventos em torno dessa última operação da Polícia Federal trouxeram novos elementos ao já conturbado quadro, com um potencial de consequências imprevisíveis para o governo.

É inegável que a prisão de João Santana, marqueteiro das campanhas presidenciais de Lula (2006) e de Dilma (2010 e 2014), levou a crise para dentro do Planalto. Santana era dos principais conselheiros da presidente e palpitava inclusive sobre assunto de cunho eminentemente político, como propostas e projetos do governo. A ação, como o previsto, renovou os ânimos da oposição em torno do processo de impeachment da presidente e mesmo setores do PMDB não alinhados com o Planalto começam a estudar a possibilidade de ingressar nesse movimento.

No Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que já analisa uma ação sobre supostas irregularidades no financiamento da campanha da chapa Dilma-Temer nas eleições de 2014, o ambiente também é de expectativa. O ministro Gilmar Mendes já confirmou que novas provas podem ser admitidas. Podemos afirmar, com toda certeza, que aumentaram as chances de afastamento da presidente pelo Tribunal.

            Um detalhe importante merece atenção. O juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato, decretou prisão temporária (de cinco dias) para Santana. Caso ela mude para prisão preventiva, ou seja, com um prazo mais elástico, será um indicativo de que as investigações podem ter chegado a novas e importantes informações. O mundo político está de olho nessa questão.

            As preocupações do governo, porém, não se resumem aos novos desdobramentos da Lava Jato. Nessa quinta-feira, a Polícia Federal deflagrou uma nova etapa da Operação Zelotes, que investiga um esquema de sonegação fiscal em todo o país. O envolvimento do Grupo Gerdau nessa etapa também coloca o Planalto em saia justa, já que o empresário Jorge Gerdau tem posto de destaque no Conselho de Desenvolvimento Econômico do governo e é, a exemplo de João Santana, conselheiro de Dilma. Mais uma vez, a crise bate à porta da presidência.

O ambiente ruim, inevitavelmente, se reflete nas pesquisas de opinião pública. O mais recente levantamento da CNT/MDA, divulgado há pouco, mostra estabilidade na avaliação da presidente Dilma – em outubro passado, ela teve 9% de avaliação positiva e agora aparece com pouco mais de 11%. Trata-se de um número muito ruim, próximo ao de Collor pouco antes de seu afastamento, em 1992. Mais grave ainda, fica evidente que, por mais que o governo se empenhe (ações de mídia, medidas “populares”, autoridades nas ruas para combater o Aedes Aegypt), não consegue melhorar efetivamente sua avaliação junto ao eleitorado. Os números ruins explicam ainda, em larga medida, o “panelaço” registrado nas mais importantes cidades do país durante a apresentação do programa do PT, na última terça-feira. Assim, é importante monitorar as convocações e a manifestação contra a presidente Dilma, prevista para o dia 13 de março. Em caso de êxito desse movimento, o processo de impeachment ganhará ainda mais força.

            O principal aliado do governo, o PMDB, por sua vez, segue dividido e emite sinais contraditórios. Como expusemos acima, setores do partido se aproximaram da oposição para discutir estratégias e fazer avançar o processo contra a presidente na Câmara. Ao mesmo tempo, a propaganda oficial peemedebista critica os “erros cometidos”, convoca todos à união e fala em um “Plano Temer 2” para tirar o país da situação atual. Apesar de parecer uma peça da oposição, o PMDB nega oficialmente qualquer rompimento com o Planalto. Mas os movimentos nesse sentido estão em curso.

Mais um sinal das dificuldades do governo veio do Congresso Nacional - a aprovação, no Senado, do projeto do senador José Serra (PSDB/SP) que retira a obrigação da Petrobras de ser a operadora exclusiva em todos os campos do pré-sal e de arcar, simultaneamente, com 30% de todos os investimentos. O planalto tentou barrar a matéria até poucas horas antes de sua votação e, pressentindo a derrota, buscou uma composição com os senadores. A articulação política palaciana, mais uma vez, mostrou-se pífia.

Por fim, a economia continua a produzir notícias ruins em profusão. A agência de risco Moody´s se juntou às outras duas grandes (Fitch e Standard & Poor´s) e retirou o grau de investimento do Brasil; o IBGE divulgou o índice de desemprego em janeiro – 7,6%, a maior taxa para o mês desde 2009, quando o Brasil sentia os efeitos da crise do subprime; e, em 2015, a mineradora Vale registrou o maior prejuízo já registrado por uma empresa brasileira em bolsa desde 1986. O valor do tombo foi de R$ 44,213 bilhões.

Ainda é cedo para se afirmar, mas já há no horizonte alguns sinais de mudança de ciclo. O governo Dilma está dando exemplos do esgotamento de um modelo de gestão e esse processo, se não for revertido a curto prazo, se tornará irreversível. Analistas políticos e de mercado, a oposição e mesmo setores do governismo observam os recentes movimentos no continente, como a derrota do kichnerismo na Argentina, o “não” à quarta recondução de Evo Morales na Bolívia e a derrota do governo Maduro nas eleições parlamentares na Venezuela como indicativos de que um novo quadro político será instalado no Brasil. O Planalto, pelo que se vê, tem contribuído fortemente para isso.

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