Considerações políticas sobre o governo Temer - Hold

Considerações políticas sobre o governo Temer

É inevitável o afastamento da presidente Dilma Rousseff pelo Senado Federal. Tanto a Comissão Especial que analisa a admissibilidade quanto o plenário da Casa necessitam apenas de maioria simples para dar continuidade ao processo. Portanto, ao final da primeira quinzena de maio o vice-presidente Michel Temer será alçado, ainda que temporariamente, ao posto de presidente da República. O que esperar de sua gestão?

Ministériono curtíssimo prazo, a questão mais delicada para o novo presidente será a montagem de seu ministério. No processo, Temer enfrenta dois desafios – atender às demandas dos partidos aliados e mostrar para o eleitorado e para os mercados que realizará uma administração diferenciada. As idas e vindas das negociações em curso indicam que a conclusão da montagem do primeiro escalão do governo não será fácil.

O caso do PSDB é emblemático. Em suas discussões a respeito de como participar do governo Temer, o partido parece dar mais um passo em direção a uma grave divisão interna iniciada com a escolha do candidato à prefeitura de São Paulo. De um lado, o governador Geraldo Alckmin e o senador Aécio Neves são cautelosos, enquanto o senador José Serra discute abertamente o cargo a ocupar – Fazenda, Planejamento, Saúde ou Educação, qualquer ministério desperta seu interesse. Para ele, as possibilidades são muitas e estão alinhadas com suas pretensões eleitorais. Ao lado de Serra está o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que também defende a participação tucana no novo governo.

O chamado “novo Centrão” também participará do ministério. As conversas seguem, mas sabe-se que o favorito a comandar a pasta da Saúde é o PP. O PSD, o PR e o PTB também terão espaço na administração. No âmbito da esquerda não petista, o PSB está em conversas internas.

Por fim, os postos mais delicados têm destinação certa – aliados peemedebistas de Temer assumirão a Casa Civil e o Planejamento e a Fazenda ficará com alguém do perfil do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Ele mesmo é um dos favoritos ao cargo.

Distribuição de cargos os segundo e terceiro escalões também entram no processo de montagem do novo governo. Cargos que para a grande maioria do eleitorado têm pouca relevância são objeto do desejo dos partidos.

Todas as legendas que apoiam Temer terão suas cotas. Setores da administração pública como Dnocs, Dnit, FNDE, Codevasf, entre outras, estão na mesa de negociações. Comandar essas áreas implica em ter poder político e recursos financeiros em mãos. Bancos estatais também fazem parte do processo.

Para Temer, a delicadeza está em não passar para o cidadão médio a imagem de fisiológico ao conceder espaço para os partidos em sua administração. A tarefa não é trivial.

AgendaMichel Temer não conseguirá maioria qualificada, de 3/5 dos votos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, para aprovar emendas constitucionais. Não se deve esperar, portanto, a retomada do debate em torno de matérias como as reformas previdenciária e tributária.

O novo governo focará sua ação em uma agenda microeconômica que, em tese, precisará de maioria simples para ser aprovada. O Congresso Nacional deverá discutir questões relativas ao pré-sal, à autonomia do Banco Central e a questões trabalhistas. Ao presidente interessa votar rapidamente algumas proposições para sinalizar aos mercados que a normalidade legislativa foi restaurada no país e que terá condições de reverter a atual crise econômica.

Oposiçãoapós mais de treze anos no comando do Planalto, o PT retornará ao papel de principal partido da oposição ciente das dificuldades que poderá impor ao governo Temer. Mais experientes e conhecedores do cotidiano do governo federal, os petistas terão em mãos instrumentos para tentar barrar as iniciativas de Michel Temer.

O embate político será duro e contará ainda com a participação de partidos tradicionais da esquerda, como o PDT e o PC do B, e também de movimentos sociais como a CUT, a UNE e o MST. O ex-presidente Lula será o “rosto” dessa nova oposição.

Conclusãono plano simbólico, os novos governos contam com um prazo de cem dias para apresentar resultados. No caso da administração Temer, em função das graves crises política e econômica, essa “lua de mel” será reduzida. O novo presidente precisará começar sua gestão com o pé direito para lograr êxito nos próximos meses. O desafio está lançado.

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