A oposição está dividida e enfrenta sérios problemas, enquanto o governo Lula (PT) segue tentando recuperar ao menos parte da popularidade. A pesquisa PoderData divulgada nessa quarta-feira, 30 de julho, apresenta um quadro de relativa melhora na avaliação geral, mas o Planalto ainda está longe de poder comemorar os resultados.
Aos números. De acordo com o levantamento, realizado entre os dias 26 e 28 de julho, 53% dos eleitores reprovam a atual administração, contra 42% de aprovação. No levantamento anterior, de junho, a desaprovação era de 56% e a aprovação, 39%.
Quanto ao trabalho pessoal do presidente, 41% consideram “ruim ou péssimo”, 34% “regular” e 22% “ótimo ou bom”. Na pesquisa anterior, os índices eram 44%, 32% e 21%, respectivamente.
Em comparação com o governo anterior, 40% consideram o atual governo pior do que o de Jair Bolsonaro (PL), 33% melhor e 24% igual. Em junho, o resultado foi 45% (pior), 30% (melhor) e 23% (igual).
A princípio, as recentes más notícias para a oposição indicam que a tendência registrada na pesquisa continuará. Dois fatos cruciais ainda não foram plenamente captados, o que deve ocorrer nas próximas pesquisas - o julgamento (e possível condenação) de Bolsonaro e seu entorno; o racha na direita, evidenciado pelas críticas do deputado Eduardo Bolsonaro (PL/SP) a antigos aliados.
Outros três eventos ocorridos nos últimos dias também terão importantes consequências políticas que poderão melhorar a imagem do governo Lula. A primeira é a prisão da (ainda) deputada Carla Zambelli (PL/SP) na Itália. Foragida da justiça brasileira e com a perda do mandato determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) - a perda precisa ser confirmada pela Câmara dos Deputados -, ela tem a imagem vinculada ao bolsonarismo, apesar dos atritos com o próprio ex-presidente. Agora, será necessário observar o comportamento de seu eleitorado, bastante conservador.
O segundo fato coloca no centro das atenções o ministro Alexandre de Moraes, do STF. Em uma decisão no mínimo inusitada, o republicano Donald Trump sancionou o magistrado via Lei Magnitsky, criada para punir não-americanos envolvidos em atos praticados, dentre outros, contra os direitos humanos. A medida gerou imediata polêmica e críticas por parte de juristas. A Corte deverá reagir, e o governo soltou nota em defesa de Moraes e da democracia brasileira.
Por fim, surpreendendo a muitos, Trump antecipou o prazo e anunciou as sanções contra o Brasil, que agora entrarão em vigor em 6 de agosto. O saldo final ficou muito abaixo do inicialmente esperado. Nada menos que 694 setores da economia brasileira ficaram isentos da nova taxação, entre eles petróleo, laranja e a Embraer. Como observou um analista, “os Estados Unidos deram um tiro de canhão, mas o Brasil recebeu uma bala de rifle”.
As negociações continuam e outros setores podem ser isentos, como café e carne. Assim, ao Brasil não interessa, ao menos por ora, qualquer tipo de retaliação. Mesmo sem soltar champanhe, o Planalto tem algo a comemorar.
Para concluir, é inegável que as curvas, nos três indicadores, mudaram de perfil - o “jacaré começa a fechar a boca”, como se diz. No entanto, dada a fluidez do cenário - como os três fatos recentes demonstram -, essa situação pode ser revertida e a oposição retomar o terreno perdido no levantamento. Tudo é possível.
André Pereira César
Cientista Político


