Brincando de Tiro ao Alvo - Parte 2 - Política - Hold

Brincando de Tiro ao Alvo – Parte 2

No último dia 15, observamos nesse espaço que o presidente Bolsonaro tem o hábito de fritar colaboradores próximos. Esse modus operandi vem desde sua posse, no início de 2019. Agora, falaremos de uma característica específica desse processo de fritura.

Ao contrário de outros presidentes, o atual titular do Planalto tende a afastar os colaboradores que, ao longo do tempo, demonstram não se assemelhar ideologicamente a ele, quando não seguem, às cegas, sua cartilha. Para Bolsonaro, ou faz o que quero, pois “sou eu quem manda”, ou começa a ser “fritado” nas redes sociais, muitas vezes, com o apoio do próprio presidente. Divergências, mesmo técnicas, não são aceitas. Exemplos não faltam.

Comecemos pela área hoje mais crítica, a Saúde. Em plena pandemia e com milhares de mortes, Bolsonaro demitiu dois ministros em poucas semanas, Mandetta (DEM/MS) e Teich. A razão é clara - ao contrário dos dois, o presidente é favorável ao relaxamento do isolamento social para salvar a economia e defende o uso irrestrito da cloroquina, apesar de não existirem evidências científicas de sua eficácia. O novo ministro, quando conhecido, além de alinhado politicamente, certamente acompanhará Bolsonaro em suas teses ideológicas.

O caso de Sérgio Moro é similar. Ele não aceitou interferências presidenciais na Polícia Federal e, ao recusar-se a atender às demandas do Planalto, ficou sem condições de continuar à frente da pasta da Justiça. Só o alinhamento político não foi capaz de manter Moro no cargo.

Recuando no tempo, chegamos ao falecido ex-Secretário-Geral da presidência, Gustavo Bebianno (PSDB/RJ). Aliado de primeira hora de Bolsonaro, ele envolveu-se em uma discussão pública com um dos filhos do presidente. Acusado de não ser totalmente fiel aos ditames ideológicos do governo, saiu com a pecha de mentiroso.

Também o secretário de Governo, general Santos Cruz, foi exonerado por incompatibilidade no relacionamento profissional com Bolsonaro. O general, diga-se, realizava um bom trabalho no Planalto.

“Nenhum ministro saiu por corrupção”, afirmou recentemente Bolsonaro. A frase remete à famosa “faxina” efetuada pela presidente Dilma no início de seu primeiro mandato, quando demitiu diversos ministros suspeitos de terem cometido atos ilícitos. No caso de Bolsonaro, aqueles que até o momento não saíram por corrupção, na verdade, caíram por não seguirem à risca a cartilha ideológica do atual governo, apesar de alguns estarem realizando, como se sabe, um bom trabalho à frente de suas pastas. Simples assim.

Só que a fala de Bolsonaro contém uma contradição. Pelo menos dois integrantes de seu governo são objeto de investigação. O titular do Turismo, Álvaro Antônio, é suspeito de envolvimento com candidaturas laranja no PSL mineiro. Já o chefe da Secom, Fábio Wajngarten, é acusado de manter contratos milionários entre o órgão e empresa na qual é sócio.

Sobre eles, nenhuma palavra ou ação de Bolsonaro. O alinhamento ideológico, nesses casos, fala mais alto.

Em tempos de pandemia, o presidente segue mais interessado em espicaçar adversários e ex-colaboradores, enquanto os mortos pela Covid-19 só crescem no país.

André Pereira César

Cientista Político

Alvaro Maimoni

Consultor Jurídico

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