Brasília e o Brasil na semana - Política - Hold

Brasília e o Brasil na semana

. A pandemia atingiu seu ponto mais elevado no Brasil, que superou os 260 mil óbitos decorrentes da COVID-19. Os sistemas de saúde estão à beira do colapso e governadores tentam retomar a fase vermelha. Especialistas já temem que o país se torne um “celeiro” de mutações, dificultando ainda mais o combate à doença. O isolamento internacional do Brasil, com a proibição de brasileiros ou de viajantes que estiveram recentemente em solo tupiniquim, de ingressar em outros países, tende a se agravar.

. Em São Paulo, o governador João Dória (PSDB) enfrenta a negativa de prefeitos e de diversos setores da economia paulista contrários a essas medidas mais restritivas. A politização da pandemia parece um fato irreversível. Dória sente, na pele, os efeitos da decisão do STF que definiu que é responsabilidade de todos os entes da federação (União, estados e municípios) adotarem medidas em benefício da população brasileira no que se refere à pandemia.

. O governo Federal decidiu comprar vacinas da Pfizer e da Janssen. A medida foi tomada após a aprovação, pelo Congresso, de projeto de lei permite que União, estados e municípios assumam a responsabilidade por eventuais efeitos colaterais do imunizante. O ministério da Saúde negocia, ainda, a aquisição de doses da vacina Sputnik V, que será produzida no Brasil pela União Química.

. Ao mesmo tempo em que os números da pandemia crescem de maneira significativa, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reforça sua tática diversionista. Repete a estratégia da “cortina de fumaça”. Na quinta-feira, 4 de março, ele voltou a minimizar a crise ao dizer que a população precisa “deixar de frescura e mimimi”. Com isso, o titular do Planalto busca dividir o espaço do noticiário com notícias negativas para seu governo e sua família.

. Em mais uma polêmica envolvendo a família presidencial, veio a público a informação de que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos/RJ), adquiriu imóvel no valor de quase R$ 6 milhões em área nobre de Brasília. A operação se deu logo após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) ter anulado quebras de sigilo do parlamentar no caso das “rachadinhas”. Além disso, o procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Luciano Mattos, extinguiu o Grupo de Atuação Especializada e Combate à Corrupção, que denunciou o senador pelo esquema da divisão de salário dos assessores parlamentares. A blindagem, agora, é quase total.

. Ainda sobre o STJ, seus integrantes foram surpreendidos pelo anúncio da aposentadoria precoce do ministro Néfi Cordeiro, de apenas 57 anos - em tese, ele poderia atuar por mais dezoito anos. Ele alegou problemas de saúde, mas sua decisão foi reprovada por muitos de seus pares. Assim, o presidente Bolsonaro terá mais uma vaga a preencher no Tribunal.

. O decano do Supremo Tribunal (STF), ministro Marco Aurélio Mello, encaminhou para a Câmara dos Deputados queixa-crime protocolada em janeiro pelo governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). Na ação, o governador acusa Bolsonaro de calúnia - em entrevista a uma rádio, o titular do Planalto afirmou que Dino teria negado pedido do Gabinete de Segurança Institucional para que a PM maranhense garantisse a segurança presidencial durante visita ao estado, em 2020. A eventual negativa da Câmara para que o processo tenha sequência deixará Bolsonaro ainda mais refém do Centrão, hoje o grupo hegemônico na Casa.

. O Senado Federal concluiu a votação da PEC Emergencial, que agora será analisada na Câmara dos Deputados. O texto aprovado, mesmo com a trava de R$ 44 bi, porém, não agradou de todo a equipe econômica - foi aberta brecha para a ampliação de verbas carimbadas para os militares. Em tese, mais um revés para o ministro da Economia, Paulo Guedes.

. Foi adiada para a próxima terça-feira, 9 de março, a definição das comissões permanentes da Câmara dos Deputados. Algumas questões ainda não foram resolvidas e demandam negociação extra. Entre elas, a disputa pela Comissão de Relações Exteriores. Aécio Neves (PSDB/MG), Arlindo Chinaglia (PT/SP) e Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL/SP), brigam pela vaga. O movimento de Aécio acabou travando a divisão, entre os partidos, das outras comissões.

. A suspeita do uso de informação privilegiada em operações com papéis da Petrobras levou a CVM a abrir investigação sobre o caso. Trata-se de grave ilícito que, se comprovado, tem potencial para comprometer importantes operadores do mercado financeiro. Uma nova frente na crise política pode estar em gestação.

. Os números do PIB, divulgados pelo IBGE, reforçaram a percepção de que a crise é profunda e que não tem previsão de acabar tão cedo. O indicador registrou queda de 4,1 pontos percentuais em 2020, o maior recuo em décadas. Pior, o mercado começa a admitir que o liberalismo de Bolsonaro não passa de “fachada”. Afinal, para onde caminha a economia brasileira?

André Pereira César
Cientista Político

Comments are closed.