Bolsonaro: um passo para a frente, dois para trás - Política - Hold

Bolsonaro: um passo para a frente, dois para trás

O tático e temporário recuo de Jair Bolsonaro (sem partido) se fez necessário após seu projeto para o 7 de setembro se mostrar um fiasco. Mesmo tendo populares a seu lado, tanto em Brasília quanto em São Paulo, o presidente da República não atingiu seu objetivo - emparedar o Judiciário e o Legislativo. Pior, ele se vê hoje praticamente isolado. O jogo segue, mas em outras condições.

A “declaração à nação” divulgada no final da tarde de quinta-feira, 9 de setembro, foi o ato final de uma série de reveses para o titular do Planalto.

Tudo começou com a ação dos caminhoneiros, aliados de primeira hora de Bolsonaro, que tentaram barrar as estradas. O presidente pediu a eles que abortassem as manifestações, o que dividiu ainda mais o grupo. Depois, em reunião dos Brics, o presidente fez elogios à China, falando das relações entre os dois países inclusive no combate à pandemia. Os apoiadores de Bolsonaro não entenderam coisa alguma.

Por fim, a “declaração” mostrou um presidente acuado, que precisou recorrer a um ex-mandatário da nação para se reposicionar. Por sinal, o papel de Michel Temer (MDB) no processo é no mínimo interessante. Ele de fato se tornou o grande fiador da normalidade institucional, função que, em tese, seria do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP/PI), que a partir de agora será cobrado por seus correligionários a mostrar a que veio.

De imediato, Bolsonaro precisa recuperar a autoridade e a credibilidade. Apequenado hoje, o presidente precisa demonstrar que detém de fato o comando do país e que sua autoridade segue valendo. Os próximos dias serão cruciais para isso.

Com relação à credibilidade, o titular do Planalto tem muito a fazer. A própria “declaração” foi recebida com descrédito pelos mundos político, jurídico e empresarial. Mesmo entre os apoiadores do presidente a sensação, ao menos por ora, é de falta de confiança. Afinal, para onde caminha Bolsonaro?

Por fim, a pacificação temporária, celebrada pelo mercado, pode ter vida curta. Não surpreenderá observador algum a retomada da artilharia pelo presidente, em breve. Um potencial alvo será o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM/MG), que além de impor derrotas a Bolsonaro vem segurando a pauta governista aprovada pela Câmara dos Deputados e, mais ainda, se coloca como pré-candidato à sucessão presidencial.

Sem ilusões. Bolsonaro recuou duas casas, mas seguirá movido por seu projeto pessoal. A crise política não está definitivamente estancada.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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