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Arthur Lira e Rodrigo Pacheco: caminhos distintos

Escolhidos para comandar as duas Casas Legislativas com o apoio do Planalto, o deputado Arthur Lira (PP/AL) e o senador Rodrigo Pacheco (DEM/MG) tomaram rumos distintos. Enquanto o primeiro reforça os laços com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Pacheco mais e mais se afasta do governo. O distanciamento entre os dois ganha visibilidade a cada dia que passa.

De um lado, Lira mantém uma forte proximidade com Bolsonaro, materializada especialmente na recusa em abrir um processo de impeachment do presidente. Oficialmente, o parlamentar alega não existir base alguma para o afastamento do titular do Planalto, mas o fato é que sua postura atende aos interesses do governo. Por ora, o presidente da Câmara dos Deputados é o homem certo no lugar certo.

Mais ainda, Arthur Lira é elemento crucial na aliança entre o PP e o Planalto. Assim, ao enviar para o plenário da Casa a proposta do voto impresso, derrotada em comissão especial, o deputado manteve viva uma questão hoje crucial para o discurso bolsonarista. Lira joga o jogo do governo.

Por outro lado, Pacheco tem adotado uma postura de distanciamento em relação a Bolsonaro. O ponto de ruptura com o Planalto se deu na instalação da CPI da Covid, em abril - e foi reforçado com a prorrogação dos trabalhos do colegiado.

Indo além, o senador tem afirmado não aceitar qualquer ameaça à democracia e à realização das eleições no próximo ano. O voto impresso ou mudanças no sistema eleitoral, como o advento do “distritão”, não contam com seu apoio.

Lira tem pressa e acelera ao máximo a tramitação de projetos de interesse do governo. Reforma do Imposto de Renda, privatização dos Correios, Reforma Administrativa, PEC dos Precatórios e a MP do Auxílio Brasil são algumas das matérias com tramitação em regime de urgência urgentíssima. Pacheco, ao contrário, vem impondo um ritmo mais tranquilo aos trabalhos do Senado, dando prioridade a projetos de interesse dos senadores e dos estados em detrimento dos interesses governistas.

Como pano de fundo estão os projetos políticos dos dois parlamentares. Lira disputará a reeleição em 2022 e tentará ser reconduzido à presidência da Câmara. Já Pacheco planeja outros voos - prestes a se filiar ao PSD de Gilberto Kassab, ele pode ser uma opção para disputar a presidência da República como cabeça de chapa ou vice, ou então tentar o governo mineiro.

Fica claro que o distanciamento entre os dois presidentes gera ruídos não só entre os dois como entre a Câmara e o Senado. A reforma tributária, fatiada entre deputados e senadores, é exemplo acabado da falta de sintonia.

Por fim, na condição de protagonistas da cena política, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco são atores cruciais no antecipado processo sucessório. Seus movimentos têm impacto sobre os rumos de Bolsonaro e de seus adversários. Muito está em jogo.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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