Alta Tensão Permanente - Política - Hold

Alta Tensão Permanente

O ambiente político segue tensionado. Boa parte dos principais atores, sejam eles integrantes ou apoiadores do governo Michel Temer ou aliados da presidente afastada Dilma Rousseff, aparece com seus nomes citados em denúncias e delações premiadas. O estrago político do processo ainda está por ser mensurado.

No âmbito do governo Temer, a delação do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, delação essa já homologada pelo Supremo Tribunal Federal, de que teria pago ao menos R$ 70 milhões desviados de contratos para líderes do PMDB reforça a percepção de que o presidente interino enfrentará ainda mais turbulência nos próximos dias.

A verba teria sido repassada para o presidente do Senado, Renan Calheiros, para o senador Romero Jucá e para o ex-senador e ex-presidente José Sarney, entre outros. Observadores da cena política em Brasília que tiveram acesso a parte do material disponibilizado por Machado avaliam que sua delação premiada está entre as mais consistentes realizadas até o momento. Não é necessário frisar o potencial daninho do processo em curso para Michel Temer.

Também a presidente afastada enfrenta forte pressão na seara legal. Não bastasse o processo de impeachment, que se aproxima da reta final no Senado Federal, denúncias contra ela ganharam força nos últimos dias. A depender da evolução dos fatos, essas denúncias certamente influenciarão na decisão dos senadores, aumentando exponencialmente as chances de afastamento definitivo de Dilma Rousseff.

Para a petista, o mais grave vem da parte de Marcelo Odebrecht. Segundo o empresário, a reeleição de Dilma Rousseff teria sido financiada com propina depositada em contas no exterior. A Operação Lava-Jato da Polícia Federal já rastreou o repasse de 3 milhões de dólares da Odebrecht para uma conta na Suíça do marqueteiro João Santana, que cuidou das últimas campanhas presidenciais do PT. Além disso, mapeou o pagamento de 22,5 milhões de reais ao marqueteiro, em dinheiro vivo, entre outubro de 2014, quando a petista conquistou o segundo mandato, e maio de 2015. Marcelo Odebrecht confirmará aos investigadores que, ao remunerar Santana, bancou despesas não declaradas da campanha do PT. Além disso, a petista teria pedido a Odebrecht “R$ 12 milhões por fora” para sua campanha. O dinheiro seria dividido entre o PT e o PMDB.

Outros executivos presos no âmbito da Lava-Jato também farão suas delações premiadas, mas as de Machado e Odebrecht, somadas, causarão estrago suficiente para gerar uma espécie de tsunami no mundo político.

Na última edição da Análise Semanal falava-se nos quatro riscos para o governo Temer. Agora, a grande crise parece confluir para um daqueles riscos, o da Lava-Jato. O problema é que, confirmado o quadro, ele contaminará ainda mais a política e a economia, com reflexos ainda mais graves sobre o país.

Em suma: a solução da crise segue distante e, no momento, nenhum político de relevância nacional pode se considerar a salvo.

Comments are closed.