ALGUNS ASPECTOS DA INTERVENÇÃO FEDERAL NO RIO DE JANEIRO - Hold

ALGUNS ASPECTOS DA INTERVENÇÃO FEDERAL NO RIO DE JANEIRO

A intervenção federal no Rio de Janeiro terá consequências que vão além da questão
da segurança pública. O processo eleitoral, já afetado pela condenação em segunda
instância do ex-presidente Lula, ganha novos elementos. A agenda política do governo
Temer e do Congresso Nacional muda de eixo. Vejamos alguns pontos desse novo
quadro.

Ao decretar a intervenção, o presidente Temer fez aposta de alto risco.
Caso a medida seja bem-sucedida, o equilíbrio político do país será alterado e o
governo terá importantes dividendos. Um eventual fracasso, porém, sepulta de vez
qualquer pretensão do Planalto e pode agravar ainda mais o já complicado estado da
segurança pública no Rio de Janeiro - e no resto do país.

A reforma da Previdência sai de cena, ao menos a curto e médio prazos.
Sem os votos mínimos necessários para aprovar a medida, o governo decidiu mudar a
música. Já o discurso de Temer de que a intervenção "poderá ser suspensa" para que a
PEC seja votada não se sustenta. Uma vez decretada a intervenção, seus efeitos não
podem ser temporariamente suspensos, dizem os juristas.

Além da proposta da reforma da Previdência, outras 148 PECs em
tramitação no Congresso Nacional serão "congeladas", conforme o estabelecido pelo
artigo 60 da Constituição Federal.

A agenda nacional muda de eixo. Entra em cena, mais uma vez, o
debate em torno da segurança pública. Temas complexos e polêmicos como a redução
da maioridade penal e alterações no Estatuto do Desarmamento novamente ganham
espaço. Uma agenda conservadora começa a se desenhar no horizonte.

A medida pode levar outros estados a solicitar ação semelhante por
parte do governo federal. A segurança pública é um problema crônico enfrentado por
muitos governadores, que certamente tentarão se aproveitar do momento. A reunião
que ocorrerá entre o ministro da Justiça e os secretários de Segurança de São Paulo,
Minas Gerais e Espírito Santo na próxima quinta-feira é um indicativo disso.

A chamada "grande imprensa" está dividida quanto ao processo. O
grupo Globo defende com unhas e dentes a medida. O Estado de São Paulo, por outro
lado, considerou "injustificável" a intervenção, em editorial publicado no último
sábado.

Na prática, a gestão Pezão chega ao fim no Rio de Janeiro. Em meio a
uma grave crise financeira, com salários atrasados e sucateamento da máquina
pública, o governador será apenas um "observador de luxo" dos acontecimentos.

Ainda sobre a política do Rio de Janeiro, a falta de lideranças e de
projetos ganha novos e dramáticos contornos. Esse fato alimenta especulações de
toda ordem - por exemplo, fala-se que o ministro da Defesa, Raul Jungmann, poderá
mudar de domicílio eleitoral e disputar o governo estadual em outubro próximo.

Ao decretar a intervenção, o presidente Temer retoma o protagonismo
político e tenta se cacifar para disputar a reeleição em outubro. Com índices de
popularidade extremamente baixos, seu objetivo é chegar a maio com 15% de
aprovação e, a partir disso, trabalhar sua eventual candidatura.

Sobre os demais pré-candidatos: Henrique Meirelles perde o discurso da
gestão econômica responsável e vê suas chances de disputar o pleito praticamente
sepultadas; Geraldo Alckmin tem a proposta de criação do ministério da Segurança
Pública retirado de suas mãos pelo presidente Temer, que já anunciou a pasta; Jair
Bolsonaro pode perder espaço caso as medidas surtam efeito - e também em caso de
fracasso, pois isso indicaria que a questão nacional não se restringe à segurança
pública.

A oposição a Temer, em especial os partidos de esquerda, ainda buscam
um entendimento do quadro geral.

Enfim, muitas perguntas seguem no ar, ainda sem respostas. Terá o
exército condições de operar em prol da segurança pública? Como ficará a Polícia
Federal dentro da nova estrutura ministerial? Qual será a reação do crime organizado
ao novo momento?

O novo jogo político começa de fato nessa segunda-feira.

André Pereira César
Cientista Político

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