Praticamente um outsider no Congresso Nacional até o início de 2019, Davi Alcolumbre (DEM/AP) ganhou os holofotes assim que assumiu a presidência do Senado Federal. Desde então, junto com Rodrigo Maia (DEM/RJ), é um dos principais condutores da agenda política brasileira. Nas últimas semanas, porém, Alcolumbre vem adotando uma postura mais agressiva, que tem desagradado a muitos de seus pares.
Em primeiro lugar, ele rompeu com o grupo de senadores que apoiaram sua eleição para a presidência do Senado. Entre eles estão a presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Simone Tebet (MDB/MS), o relator da reforma da Previdência, Tasso Jereissati (PSDB/CE), e Randolfe Rodrigues (Rede/AP). Mais do que romper com os antigos aliados, Alcolumbre se aproximou de velhos adversários, todos ligados a Renan Calheiros (MDB/AL), com quem disputou a presidência da Casa.
Além disso, Alcolumbre anunciou que as reuniões do Colégio de Líderes, onde são previamente definidas a agenda semanal dos trabalhos no Senado, não mais ocorrerão. A medida pegou de surpresa os senadores, que externaram sua discordância com o presidente da Casa.
A convocação de reunião do Congresso Nacional para análise de vetos presidenciais, na última semana, deixando de lado a proposta de reforma da Previdência – que aconteceu sem aviso prévio –, ajudou a conflagrar ainda mais a já delicada relação de Alcolumbre com seus pares. Acredita-se que o alvo do presidente foi a lei do Abuso de Autoridade, em especial após a operação da Polícia Federal contra o líder do governo, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB/PE). Nesse sentido, Alcolumbre teve sucesso - boa parte dos vetos do presidente Jair Bolsonaro foram derrubados. Mas os efeitos e extensão desse intempestivo movimento ainda deverão ser medidos.
Agora, Davi Alcolumbre será desafiado a manter suas decisões. Caso ele titubeie, seus novos e poderosos desafetos abrirão um confronto no qual somente ele, Alcolumbre, perderá. O jogo apenas começou.
André Pereira César
Cientista Político
