Acomodação de forças? - Política - Hold

Acomodação de forças?

A altamente provável exoneração do ministro da Educação, Abraham Weintraub, concentra as atenções de todos, é fato. No entanto, ela representa apenas a ponta de um iceberg. O mundo político vive o que parece ser um momento de acomodação de forças. A se confirmar esse quadro, ele terá importantes consequências para o país.

Ainda sobre Weintraub, sabe-se que todos os governos, desde a redemocratização, tiveram seus bodes expiatórios que acabaram, no mais puro instinto de preservação, sendo sacrificados. Agora não poderia ser diferente. O titular da Educação excedeu-se em diversos momentos, mas o seu comportamento acabou sendo de alguma forma útil para o Planalto, pois tirava o foco de outras questões. Mas tudo tem um limite.

A eventual saída do ministro não é de todo ruim, pois poderá servir para o presidente Jair Bolsonaro consolidar o ingresso do Centrão em seu governo. Em breve o país saberá se, e qual partido do megabloco ficará com o comando da poderosa pasta. A conferir.

No entanto, um importante movimento, hoje, se dá na centro-direita democrática, com participação de alguns setores da centro-esquerda. O primeiro sinal efetivo foi uma entrevista concedida a uma emissora de televisão com a participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede). Cordialidade, troca de gentilezas e a conclusão óbvia de que é necessário, com urgência, defender a democracia contra os arroubos autoritários de Bolsonaro foi o que mais se ouviu. Tudo muito claro.

A seguir, os partidos oficializaram seus posicionamentos. O PSDB divulgou nota oficial contra a ideia de impeachment de Bolsonaro. Indo além, a legenda afirma que o governo Dilma foi o responsável pela ascensão do atual presidente.

Igualmente o DEM, na figura de seu presidente nacional, ACM Neto, criticou a hipótese de se colocar em discussão o impeachment. Cabe ressaltar aqui que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, importante liderança do partido, tem se recusado a pautar propostas de afastamento de Bolsonaro que têm chegado à sua mesa.

Até mesmo o ministro do STF, Gilmar Mendes, em recente entrevista à Rádio Bandeirantes, afirmou não estar “... entre aqueles que escrevem que deveria haver uma solução do impeachment ou que deveria haver solução do encurtamento dos mandatos pelo TSE."

O que explica essa movimentação? Há o receio de que, mais uma vez, a disputa sucessória se dê entre bolsonaristas e petistas. Assim, o centro e a centro-direita democrática querem recuperar ao menos parcela do protagonismo perdido desde 2018. Precisam, desde já, marcar posição.

Também a necessidade de recuperar parte do eleitorado de classe média que migrou para as fileiras de Bolsonaro. PSDB, DEM e outros que compõem a tal frente em defesa da democracia querem afastar a pecha de complacentes com os desmandos do establishment político.

Outro ponto a se observar, e que também pode vir a justificar esse posicionamento do PSDB e do DEM, foi a de acalmar os ânimos do mercado e das lideranças políticas, porque sabem do custo político e social que um processo de impeachment acarreta. No entanto, esse movimento não significa o embarque no governo. Pelo contrário, pois apostam todas as fichas nas três frentes de investigação sobre fake news conduzidas pela CPMI no Congresso, Tribunal Superior Eleitoral e Supremo Tribunal Federal para afastar Bolsonaro.

A frente em defesa pela democracia, na qual os dois partidos também integram, aguarda a conclusão dessas investigações para o início de uma pressão mais forte e organizada para que a chapa Bolsonaro/Mourão possa vir a ser cassada pelo TSE.

As últimas operações da Polícia Federal, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF, atendendo pedido do Procurador Geral da República, Augusto Aras, de busca e apreensão e de quebra de sigilos de apoiadores, deputados federais e estaduais e de senador da República, são indícios suficientes de que o quebra-cabeça das fake news está sendo montado para subsidiar uma possível cassação da chapa pelo TSE.

Enfim, muito está em jogo. A movimentação em curso ficará mais clara em breve, com a consolidação dessas operações da PF e da nova configuração política na Esplanada dos Ministérios.

André Pereira César

Cientista Político

Alvaro Maimoni

Consultor Jurídico

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