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A resiliência do bolsonarismo

Apesar das muitas notícias negativas, como o avanço da pandemia, a economia patinando e críticas severas por parte da comunidade internacional, o presidente Jair Bolsonaro continua a registrar bons índices de avaliação popular. A mais recente pesquisa DataFolha atesta essa realidade.

De acordo com o levantamento, realizado em todo o Brasil nos dias 11 e 12 de agosto, o presidente apresenta os melhores números desde sua posse, em janeiro de 2019. Ele tem 37% de aprovação, contra 34% que avaliam negativamente sua gestão. Na pesquisa mais recente, do final de junho, Bolsonaro aparecia com 32% e 44%, respectivamente. Uma evidente mudança de tendência na opinião pública.

Alguns fatos ajudam a explicar o atual momento. A ajuda emergencial concedida à parcela significativa da população em função da pandemia foi recebida como um bálsamo por setores antes refratários ao presidente, em especial nas regiões Norte e Nordeste, cujos eleitorados são historicamente mais ligados ao petismo.

Igualmente o recuo tático do presidente, que passou a evitar as tradicionais polêmicas em diferentes frentes colaborou para o novo quadro. É evidente que não existe a figura do “Jairzinho paz e amor” (em alguns momentos, ele derrapa), mas a contenção de seus atos é palpável. Um cálculo político correto.

O novo modelo de relacionamento com o Congresso Nacional, a partir do ingresso do Centrão, também tem seu peso. O presidente agora tem interlocutores mais tarimbados (como o novo líder na Câmara, o deputado Ricardo Barros, do PP paranaense), tornando o diálogo parlamentar mais natural. Aqui, podemos afirmar que a velha política” se sobrepôs à “nova”, de maneira absolutamente legítima em um governo que se espera de coalizão.

Um detalhe importante. A nomeação do deputado Fábio Faria (PSD/RN) para o comando do reestruturado ministério das Comunicações, distensionou significamente a até então atribulada relação do Planalto com a mídia tradicional. Mais um ponto para o governo.

É evidente que a administração Bolsonaro é errática e tem muitos problemas sérios no seu dia a dia. O presidente beira a irresponsabilidade ao defender medicamentos não recomendados para o combate à Covid 19, tem o espectro de Fabrício Queiroz e suas ilegalidades perigosamente próximo, bate cabeça na condução da crise econômica, diz inverdades à respeito da crise ambiental e é duramente questionado mundo afora. Para seu eleitor, pouco importa. O bolsonarismo é resiliente por natureza.

As eleições presidenciais ainda estão distantes e muito pode mudar. Mas, hoje, é inegável que Bolsonaro seria um candidato competitivo. Seus adversários não podem desprezá-lo.

André Pereira César

Cientista Político

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