A longa e sinuosa estrada do centro - Política - Hold

A longa e sinuosa estrada do centro

Enquanto a polarização ganha corpo em todo o país, as forças do centro político seguem em busca de uma rota alternativa para a sucessão presidencial. Mais uma vez, um grupo de partidos realiza nova tentativa de estabelecer um diálogo com o objetivo de chegar a um projeto e um nome consistentes.

A rigor, as legendas empenhadas na construção da via alternativa tentam se manter distantes tanto do lulismo quanto do bolsonarismo. Integram esse grupo PSDB, MDB, DEM, Podemos, PV, Cidadania, Novo e Solidariedade. Até o PSL, partido pelo qual o presidente Jair Bolsonaro foi eleito, pode participar das negociações.

Em primeiro lugar, o estabelecimento de uma agenda única não é tarefa fácil. Afinal, como conciliar, por exemplo, a visão liberal do DEM (que inclusive tem quadros no atual governo) com as propostas mais à esquerda do PV? Além disso, questões regionais têm impacto sobre as agremiações - nos estados do Nordeste, o MDB é simpático ao ex-presidente Lula, enquanto no Sul do país o partido é ligado a Bolsonaro.

Para piorar, faltam nomes no chamado “mercado político”. Não por acaso, potenciais pré-candidatos à presidência da República saíram do páreo nos últimos tempos - o apresentador Luciano Huck renovou seu contrato com a Rede Globo, o ex-ministro Sérgio Moro teve o nome inviabilizado com as denúncias da Vaza Jato e o fundador do Novo, João Amoêdo, sem o apoio de seu próprio partido, abriu mão do projeto.

Os demais postulantes igualmente enfrentam obstáculos. No PSDB, as prévias fatalmente racharão o partido. O DEM, por sua vez, dividido entre o apoio a Bolsonaro e uma postura independente, segue perdendo quadros - o último, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

Cabe ressaltar ainda que outro integrante da chamada Frente Ampla Democrática, o neopedetista Ciro Gomes, não se mostra empolgado pelo projeto. Ao contrário, ele tem reforçado um posicionamento separado do grupo, bem a seu estilo personalista.

Enfim, o tempo corre contra os partidos de centro. Caso não se chegue a um entendimento, é altamente provável que tanto Lula e o PT quanto Bolsonaro acabem por cooptar as agremiações. Nesse sentido, uma eleição polarizada se materializaria, tendo diversos partidos de médio porte orbitando em torno das duas principais candidaturas.

André Pereira César
Cientista Político

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