Foto: Lula Marques/Agência Brasil
Os próximos dias registrarão uma mudança histórica no Brasil. O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e integrantes de seu entorno sobre a participação na tentativa de golpe de Estado marca um novo momento no país. Pela primeira vez um ex-mandatário vai a julgamento por esse motivo e as perspectivas são ruins para ele.
Apenas para relembrar, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciará o julgamento na terça-feira, 2 de setembro, e deverá concluir os trabalhos em 12 de setembro. Integram o colegiado os ministros Alexandre de Moraes (relator), Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux. À exceção desse último, que tem divergido de seus pares nesse caso, a sinalização é a de condenação. Resta saber como será a pena.
A defesa de Bolsonaro considera muito remotas as chances de que o ex-mandatário escape da pena. Aqui, já se prepara uma repetição da estratégia do presidente Lula (PT) quando de sua prisão - buscar convencer tribunais internacionais de sua inocência. A defesa, por sinal, fala em perseguição política.
Indo além, outra novidade do processo é o julgamento de militares de alta patente, inclusive generais de quatro estrelas. Lembremos que nossa vizinha Argentina, tão logo encerrado o ciclo militar naquele país, julgou e condenou os responsáveis pelo regime. No Brasil, veio a Lei da Anistia.
Duas considerações. Em primeiro lugar, a comunidade internacional, imprensa incluída, acompanha com atenção ao processo. A capa da última edição da revista The Economist sintetiza esse quadro - e nada menos que 66 jornalistas estrangeiros estão inscritos para assistir in loco o julgamento.
A segunda consideração diz respeito ao comportamento do norte-americano Donald Trump. Caso se confirmem as condenações, novas sanções serão aplicadas ao Brasil? No Planalto, há quem avalie que isso é praticamente inevitável, mas outros apostam que o republicano já tem muitos problemas em mente e com muitas frentes de batalha. Dado o caráter imprevisível de Trump, sobram incertezas.
Por fim, as redes sociais já repercutem o processo, com o assunto dominando as interações entre grupos distintos. Alguma violência não pode ser totalmente descartada.
É evidente que o iminente julgamento tem forte componente político. Um ex-presidente e militares graduados no banco dos réus por tentativa de golpe de estado representa um novo tempo no país ou apenas acirrará ainda mais a polarização em curso? Respostas em breve.
André Pereira César
Cientista Político


