A Faria Lima baterá panela? - Política - Hold

A Faria Lima baterá panela?

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) continua flertando com o perigo. O “episódio” Petrobras, com uma intervenção que causou forte perda no valor da empresa e gerou incertezas quanto ao futuro, deixou claros os limites do viés liberal do governo. Para piorar, o PIB caiu 4,1% em 2020, de acordo com o IBGE, o maior recuo anual da série em décadas.

Com tudo isso, o apoio do mercado ao titular do Planalto enfrenta seu maior teste desde a campanha eleitoral, em 2018. Afinal, a Faria Lima baterá panela?

São quatro os pilares que sustentam o governo – os bolsonaristas mais fiéis, os militares, o Centrão e o mercado. Esse último começa, de forma ainda tímida a questionar essa condição. Os próximos movimentos presidenciais poderão ser decisivos para alterações de rota por parte desses agentes.

Por mercado, entende-se aqui o chamado “PIB” - o sistema financeiro, os grandes empresários, o agronegócio. Os “donos do dinheiro”, enfim.

Os números são claros. Às vésperas da mudança no comando da Petrobras, a Bolsa brasileira operava acima de 119 mil pontos. Na terça-feira, 2 de março, fechou próxima aos 111 mil, um recuo significativo. O dólar, por sua vez, passou de R$ 5,44 para R$ 5,67, após intervenções do Banco Central. Há um novo elemento no jogo, o “risco Bolsonaro”.

O viés liberal da atual administração, hoje, está basicamente concentrado no ministro da Economia, Paulo Guedes, que perde voz e espaço dia após dia. Seus principais colaboradores já deixaram o governo e a realidade é cruel com o titular da pasta – hoje sua manutenção ou não na Esplanada pouca diferença faz. A votação pelo Congresso, da PEC Emergencial, com a inclusão de um novo auxílio emergencial em quatro parcelas de R$ 250,00, com flexibilização das regras fiscais, poderá ser a pá de cal na curta caminhada do “ministro da semana que vem” à frente da economia brasileira.

O que sustenta ainda a posição do mercado é a ausência de uma alternativa real a Bolsonaro. Não há no horizonte próximo, um nome ou projeto realmente liberalizante, capaz de aglutinar forças em torno de si. O centro tradicional e a centro-direita estão envolvidos em suas brigas internas. Sobre a esquerda e a centro-esquerda, é necessário ser franco - o mercado jamais apoiaria uma opção nessa linha.

De fato, não se detecta no ar um movimento organizado do establishment favorável a uma mudança no status quo, muito em decorrência, acredita-se, dos lucros com as operações recentes. Na contramão está o cidadão comum, que paulatinamente perde poder aquisitivo.

Assim, Bolsonaro continua sozinho no jogo, sem adversários concretos e com a faixa liberada para agir como quiser. No entanto, as ações presidenciais têm limites. Caso ele se exceda e as intervenções se tornem mais frequentes, as peças tendem a se mover.

Neste caso, a Faria Lima baterá panela?

André Pereira César
Cientista Político

Comments are closed.