Faltando poucos dias para o início do julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), da tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está cada vez mais na berlinda. Pesquisa Quaest recém divulgada mostra o estado atual da imagem do ex-mandatário junto ao eleitorado. O levantamento se deu entre 13 e 17 de agosto.
Aos números. Para 55% dos entrevistados, a prisão domiciliar do ex-presidente é justa, enquanto 39% avaliam como injusta. Já 57% consideram a chamada de vídeo em ato com apoiadores uma provocação ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, contra 30% que acreditam que Bolsonaro não compreendeu bem as regras impostas pelo ministro.
Destrinchando os números, consideram mais justa a prisão domiciliar de Bolsonaro quem se define como esquerda “não lulista” (93%), que declaram ter votado em Lula no 2º turno de 2022 (84%), moradores do Nordeste (65%) e católicos (62%).
Já aqueles que defendem o ex-presidente é classificam a medida como injusta são bolsonaristas (87%), quem votou em Bolsonaro no 2º turno de 2022 (83%) e evangélicos (57%). Ou seja, os recortes não trazem novidades.
Por último, 86% dizem ter conhecimento que o ex-presidente está sendo julgado - eram 73% em março. Já 14% não sabem do fato, queda em relação aos 27% registrados em março. A iminência do início do processo desperta o interesse de quase a totalidade da população.
Em paralelo à pesquisa, a oposição mais alinhada ao bolsonarismo segue realizando seus movimentos. No âmbito dos potenciais sucessores, o governador mineiro Romeu Zema (Novo) oficializou sua pré-candidatura falando em “varrer o PT do Planalto”. Outro pré-candidato (esse mais forte), Tarcísio de Freitas (Republicanos/SP), segue tentando encaixar um discurso mais consistente. Na tradicional Festa do Peão de Barretos (SP), domingo último, ele defendeu Bolsonaro afirmando que o ex-presidente “está passando por uma grande injustiça”. Ressalte-se aqui que a região de Barretos é reduto bolsonarista, ou seja, o governador calibrou seu discurso para o público local.
No Congresso Nacional, por seu turno, a oposição se aproveitou de falhas da base aliada e impôs algumas derrotas ao governo. Na CPI Mista do INSS, que deverá gerar novos ruídos na cena política, surpreendeu e emplacou o presidente do colegiado, senador Carlos Viana (PL/RJ), e o relator, deputado Alfredo Gaspar (União Brasil/AL), ambos bolsonaristas. A Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal conseguiu passar uma emenda ao projeto de lei complementar do novo Código Eleitoral Brasileiro sobre a obrigatoriedade do voto impresso. Em plenário são remotas as chances da medida prosperar, mas os bolsonaristas continuam a mostrar que podem incomodar o governo.
Enfim, o quadro segue repleto de incertezas e o início do julgamento de Bolsonaro representará mais um capítulo na saga do ex-presidente. Uma troca de guarda à direita da política brasileira se desenha no horizonte.
André Pereira César
Cientista Político


