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Um novo centro?

Cada vez mais aguda, a polarização política tem estimulado setores mais ao centro do espectro ideológico a buscarem alternativas para as próximas eleições. Não falamos aqui do “Centrão”, grupo de parlamentares de diferentes partidos que atua conjuntamente em defesa de determinadas proposições. Trata-se, na verdade, de movimentos e legendas programaticamente assemelhados, que tentam estabelecer um bloco único.

A questão programática é facilmente identificável. Busca-se uma “agenda modernizante”, com reforço no investimento em educação, combate à desigualdade social e defesa da ética na política. O discurso flui naturalmente, mas em tempos de recursos escassos as propostas soam quase utópicas.

Inicialmente, alguns grupos de “renovação política” podem fazer parte do projeto. RenovaBR, Agora!, Acredito e Livres entram na lista. Os três últimos movimentos, por sinal, se aproximaram do Cidadania (antigo PPS), mas em termos numéricos ainda representam muito pouco. É preciso expandir o raio de ação.

Aqui entram rostos e nomes com capacidade de atração de novos adeptos e militantes. O apresentador Luciano Huck, que flertou com a possibilidade de disputar as eleições de 2018 e recentemente se envolveu em polêmica com o presidente Jair Bolsonaro, é apontado como homem da linha de frente desse “novo centro”.  Também o ex-governador capixaba Paulo Hartung, com bom trânsito junto às mais diversas agremiações e atualmente sem partido, apresenta-se como alternativa. Mediando o processo, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga atua nos bastidores.

Outro possível foco a ser atraído para as fileiras do bloco seria de deputados que votaram contra a orientação partidária na reforma da Previdência e agora estão sendo pressionados pelas cúpulas das legendas. Como exemplo, Tábata Amaral (PDT/SP) e Felipe Rigoni (PSB/ES). Ambos, importante lembrar, há tempos incorporaram o discurso da “nova política”. É necessário averiguar se há substância nessa retórica.

Enfim, o potencial bloco precisará também conquistar parcela do eleitorado de Bolsonaro que está insatisfeita com os rumos do governo, assim como parte da esquerda moderada. Desafios nada triviais.

O “novo centro” sairá do papel para se tornar realidade? Somente o tempo dirá. Por ora, o risco real que seus defensores enfrentam é o de se tornar um movimento (ou partido) com muitas lideranças e poucos liderados. Sem uma base social efetiva, não haverá êxito.

André Pereira César

Cientista Político

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