2021, MODO DE USAR: O BRASIL NO MUNDO - Política - Hold

2021, MODO DE USAR: O BRASIL NO MUNDO

O Brasil enfrentará desafios de monta ao longo de 2021 no cenário internacional. O combate à COVID-19 via vacinação, que já é realidade em diversos países, aqui ainda é apenas uma miragem; a política ambiental brasileira, objeto de severas críticas, afeta diretamente o agronegócio; a relação com a China vive um momento de tensão; o governo do democrata Joe Biden pode isolar ainda mais Brasília; e o Mercosul segue relegado a um segundo plano.

Vacinação e combate à pandemia - o mundo vacina e a população brasileira aguarda a definição do processo no país. A politização da pandemia levou o Brasil para o fim da fila e os prejuízos dessa realidade começam a se mostrar.

O Reino Unido proibiu voos oriundos do Brasil e de outros países do continente; a Índia coloca em xeque a venda imediata de vacinas para o ministério da Saúde; o caos em Manaus levou o combalido governo da Venezuela a oferecer oxigênio para os hospitais daquela cidade; a Argentina, enquanto isso, já vacina seus cidadãos. Esses (recentes) fatos são indicativos claros de que os riscos de isolamento do país são reais.

Meio ambiente - especialistas consideram a crise ambiental tão grave quanto a pandemia, por conta de seus efeitos futuros. O assunto domina a agenda das principais economias do planeta e, recentemente, esteve em pauta na sucessão norte-americana. Não há como fugir do debate.

Enquanto o mundo exige o estabelecimento de uma economia verde, o Brasil segue na contramão. Em 2021, o governo Bolsonaro será pressionado ao limite para revisar as políticas em curso no país. Sem um efetivo combate ao desmatamento, às queimadas e ao uso predatório das florestas, muitos governos imporão sanções ao Brasil. Um pedido de exoneração coletiva de todos os chefes titulares e substitutos do processo sancionador do Ibama foi formalizado no último dia 12 de janeiro, como protesto ao desmonte que o órgão fiscalizatório vem sofrendo. Nesse quadro, a continuidade do ministro Ricardo Salles à frente da pasta não está assegurada.

Agronegócio - é de conhecimento geral que o agronegócio tem sustentado a economia brasileira há anos. Em 2020, o tombo do PIB não foi ainda maior em função do desempenho do setor. Para 2021, espera-se um crescimento menor, por conta de uma revisão para baixo nos preços.

No entanto, o agronegócio sofre ameaça direta da política ambiental em curso. Muitos países consumidores de produtos como a soja, uma das estrelas do setor, ameaçam buscar novos mercados. As duras palavras do presidente francês Emmanuel Macron, que recentemente falou em cancelar a importação de soja brasileira, mostram que o governo Bolsonaro deve se preocupar com a questão.

Brasil e China - um dos mais importantes parceiros comerciais do Brasil, a China enfrenta forte resistência por parte do governo Bolsonaro - resistência essa de caráter ideológico, é importante frisar. Em especial, integrantes do primeiro escalão do governo, como o ministro das Relações, Ernesto Araújo, têm se estranhado com o embaixador chinês no Brasil.

A tensão atual nas relações entre os dois países e a consequente incerteza quanto ao futuro estão levando o governo chinês a buscar reduzir sua dependência das exportações brasileiras. A questão-chave, porém, diz respeito à Huawei - caso a empresa seja excluída do leilão do 5G, as chances de uma retaliação efetiva serão grandes, o que seria péssimo para nossa economia.

Governo Biden - a expectativa é grande com relação ao futuro das relações Brasil-Estados Unidos no governo do democrata Joe Biden. A verdade é que as afinidades entre Bolsonaro e Donald Trump são coisa do passado. O pragmatismo deverá falar mais alto a partir de agora.

A princípio, Planalto e Itamaraty sinalizam que não mudarão suas posições em função da nova administração norte-americana.  No entanto, o quadro não é favorável - durante a campanha, Biden ameaçou o Brasil com “consequências econômicas gravíssimas” caso não mude sua política ambiental. Há quem afirme inclusive que o novo presidente pretende liderar uma frente unida de países para fazer Bolsonaro preservar a Amazônia. A pressão será intensa ao longo do ano.

Mercosul - sob o comando temporário da Argentina, o Mercosul adiou para esse ano a revisão da Tarifa Externa Comum (TEC) - essa tarifa visa estimular a competitividade entre os países do bloco. A grande questão, porém, está na assinatura do acordo comercial com a União Europeia, anunciado em 2019 mas ainda aguardando ratificação pelos parlamentos europeus. A política ambiental do Brasil, como se sabe, é das principais causas do atraso.

O fato é que o governo Bolsonaro tem dado pouca atenção ao bloco. Mesmo antes da posse, o ministro da Economia, Paulo Guedes, questionava a importância do Mercosul para o Brasil. É pouco provável que o bloco torne-se prioritário na agenda brasileira em 2021.

Considerações finais - caso não ocorra uma radical mudança de rota, o Brasil se tornará ainda mais irrelevante no cenário internacional. O país não pode continuar a ser um “pária” - essa condição serve apenas para afugentar investidores e, consequentemente, impedir o desenvolvimento nacional.

2021 não será fácil. Procura-se um projeto de nação.

André Pereira César

Cientista Político

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