Eleitorado do DF vai da esquerda para a extrema direita. Entenda - Hold

Eleitorado do DF vai da esquerda para a extrema direita. Entenda

Bolsonaro tem mais de 30% da preferência do eleitor do DF, que votou majoritariamente em Marina Silva em 2010 e 2014

O eleitorado do Distrito Federal tem um comportamento pendular. A unidade da federação, dona da maior renda per capita do País graças aos altos salários do Três Poderes, já esteve nos extremos do espectro político. Neste ano, o candidato de extrema direita, Jair Bolsonaro (PSL) aparece na frente na região com mais de 30% da preferência do eleitorado, de acordo com pesquisas. Um patamar acima do que ele tem no resto do País. Mas nas eleições passadas, Marina Silva, uma candidata de centro esquerda, tinha a preferência do eleitorado do DF.

Em 2010, Marina Silva (PV) foi a mais votada à Presidência no DF, com 41,96% dos votos válidos, ante 31,74% de Dilma Rousseff (PT) e 24,30% de José Serra (PSDB). Já em 2014, ela perdeu por pouco, exatos 4.541 votos, para Aécio Neves (PSDB). Ele teve 36,1% dos votos válidos, Marina 35,81% e Dilma Rousseff (PT) 23,02%.

Mas o que explica esse comportamento tão oscilante do eleitorado da capital do País?

Para André César, cientista político da Hold Assessoria Legislativa, são dois os motivos principais: o fato do eleitorado não estar enraizado ao local, fazendo com que seu comportamento seja mais volátil, e a renda maior e escolaridade, que fazem com que o eleitor seja extremamente exigente com os que estão no poder, abrindo espaço para o 'novo'. Leia abaixo a entrevista com o cientista político André César:

Podemos dizer que o eleitorado do DF ainda não é maduro, por ser uma unidade da federação mais nova, com muita gente de fora?

— Não é questão de maturidade. Eu diria de enraizamento. Eu, por exemplo, sou de São Paulo. Mas embora tenha feito a minha vida em Brasília, ainda voto em São Paulo. Aqui uma parcela significativa do eleitorado se cansa rapidamente do seu representante, se cansa de quem está no poder pelo desenraizamento. Algo nesse sentido.

E há ainda o perfil econômico. Uma média salarial mais elevada, com os servidores públicos, categoria que mesmo em crise tem garantia de renda, mas acaba defendendo seus interesses, que já são conhecidos. E num cenário de crise fiscal, onde o dinheiro está curto e governos estão tendo que cortar na carne, o detentor do poder naquele momento se torna antipático e vem o desejo de mudança. Se o governante toma atitudes que batem de frente com esses interesses legitimamente constituídos mais fortes, o eleitor resolver mudar. E por ter média de escolaridade mais elevada isso vai reverberando entre os formadores de opinião, descendo pelo corpo social como um tudo.

Isso se reflete nas eleições locais para o governo do DF, praticamente sem reeleição de governos?

— Temos que lembrar a história política do DF. Nos anos 90, Cristovam Buarque, acabou perdendo a eleição para o Roriz muito até por uma sabotagem dos próprios aliados, o chamado fogo amigo, com um mandato complicado, quase caótico, principalmente perto do fim. Roriz voltou, tinha um histórico populista, de concessão de terrenos, certas facilidades para pessoas que chegavam, em troca do voto. A manutenção do grupo dele no poder passava muito por essa prática. E desde então você tem o espólio político do Roriz: Arruda, Luis Estevão, Paulo Octavio, que mesmo que não tenham chegado ao poder, mas ocuparam postos de alta relevância e todos com problemas. Eu vejo a política do DF, desaguando nessa eleição onde você vê um governador mal avaliado e com sérias dificuldades de se reeleger, ameaçado por três candidaturas competitivas. Isso mostra que a política no DF é muito específica, há questões locais que não se reproduzem em outros Estados.

Qual seria a diferença para outros Estados?

— Exemplo: o Estado de São Paulo. Desde 1994 o PSDB comanda. E pode perder agora, já que o Doria está enfrentando uma campanha dificílima contra Skaf, mas desde 1994 o PSDB é a grande força política, onde outros grupos, como PT e MDB sempre tiveram muita dificuldade em concorrer. Isso foi um processo que foi se auto reforçando, vitaminando, e que você não tem no DF. Talvez pelas condições de ser uma unidade da federação mais recente, onde o voto para governador só veio a partir de 88, ainda é jovem. E há especificidades. O servidor público com peso muito grande na sociedade e origens distintas. Ainda se vive muito a questão das pessoas de fora que vem para construir a vida, apesar de já haver uma geração de nascidos no DF. Mas é um processo. Talvez isso explique o comportamento pendular onde você faz e desfaz. Cria uma liderança, em pouco tempo essa liderança é testada no poder e rejeitada. O Rollemberg [atual governador que tenta a reeleição] está sentindo isso na pele.

Isso aproxima o eleitor do DF com o do Rio Grande do Sul, onde a reeleição é difícil?

— O Rio Grande do Sul parece mais o DF. No Rio Grande do Sul de fato historicamente a reeleição é quase um tabu. O Estado também tem especificidades, fronteira com o Cone Sul, com outros países, a história, as tentativas de revolução nos séculos 19 e 20. Isso influencia no modus operandi da cabeça do gaúcho, que é extremamente politizado. Mas outra realidade que acaba desaguando numa realidade parecida com o DF, onde é difícil de se reeleger.

Podemos dizer que DF está tendo uma guinada à direita, agora com a preferência pelo Bolsonaro?

— Não, ele é pontual. O DF acompanha a questão da radicalização do País, do processo de radicalização e no plano simbólico as imagens da pancadaria na Esplanada no ano passado sintetizam, reproduzem de maneira um pouco mais aguda o quadro que está no País com um todo. Onde há a força de um candidato que se considera outsider, apesar de não ser, mas na cabeça do eleitor médio acaba virando, o cara de fora, o que é mentira, já que é deputado há vários mandatos. E Brasília se coaduna com uma certa novidade. A partir de 1994, com a Eleição do Fernando Henrique, sempre houve dicotomia PT/PSDB, até 2014. Sem chances efetivas de uma candidatura alternativa realmente competitiva. O Ciro Gomes teve um espasmo em 2010, a Marina Silva em 2014. Mas se manteve o samba de duas notas, de PT/PSDB. E comparando com 2014, quando Marina foi mais votada no DF, ela também era novidade e tinha o elemento comoção com a morte de Eduardo Campos, ela assumiu o comando da campanha. Há fatores intangíveis, que acabam entrando na construção do rótulo.

O ataque ao Bolsonaro, que gerou agora uma comoção, não tão grande quanto se imaginava, conforme as pesquisas Ibope e Datafolha, mas tudo isso acaba se somando na construção desse voto. E o DF está caminhando em linha com o que ocorre no País. Mas aqui a dicotomia, a polarização fica um pouco mais evidente, com Bolsonaro um pouco acima da média nacional no DF.

Fonte: https://noticias.r7.com/prisma/coluna-do-fraga/eleitorado-do-df-vai-da-esquerda-para-a-extrema-direita-entenda-12092018

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