Reflexões iniciais sobre a sucessão em Recife - Eleições Municipais - Hold

Reflexões iniciais sobre a sucessão em Recife

Com quase 1,7 milhão de habitantes, a capital pernambucana é o centro da quarta maior área metropolitana do país. Ao longo da história, a cidade sempre exerceu influência sobre a política nacional, e essa realidade não mudou. Em 2020, a disputa pela prefeitura terá como um dos elementos mais importantes um racha entre os partidos de esquerda, tradicionalmente fortes na cena local.

A esquerda, conforme exposto acima, entrará dividida no pleito. Pelo menos três partidos deverão lançar candidatos próprios e, em tese, disputarão a mesma faixa do eleitorado. Esse quadro pode favorecer outros grupos, em especial os de centro-direita.

Para piorar, uma briga familiar permeia as candidaturas dos deputados federais João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT). O tom do embate entre os dois será no mínimo duro.

Bisneto do ex-governador Miguel Arraes e filho do também ex-governador Eduardo Campos, que morreu em acidente aéreo durante a campanha presidencial de 2014, o deputado João Campos surgiu na política embalado pela força familiar. No entanto, logo ele desenvolveu um estilo próprio, sendo dos mais destacados parlamentares da nova geração. Deputado mais votado na história de Pernambuco, seu ingresso na vida pública atrapalhou os planos da petista Marília, sua prima. O embate entre os dois transcendeu o lado familiar.

Marília Arraes, por sua vez, começou sua carreira política no PSB mas, não aceitando o que chamou de “guinada à direita do partido”, ingressou no PT. Vereadora bastante atuante em defesa de causas sociais, ela tentou disputar o governo estadual em 2018, mas o PT decidiu apoiar a reeleição de Paulo Câmara (PSB). O episódio repercute até hoje e a agora deputada federal deixa claro que não aceita qualquer aproximação com os socialistas.

Ainda à esquerda, o PDT apresenta o também jovem deputado federal Túlio Gadêlha. Atual esposo da apresentadora global Fátima Bernardes, ele tornou-se uma figura nacionalmente conhecida. Bacharel em Direito, sua candidatura tentará ganhar espaço junto aos eleitores não satisfeitos com o embate PSB-PT. As chances de êxito, porém, são limitadas, dada à carência de estrutura de sua campanha.

Ao centro do espectro político, o Cidadania lançará outro deputado federal, Daniel Coelho. Ex-vereador e ex-deputado estadual, Coelho integrou o PSDB até 2018, mas deixou a legenda por divergências ideológicas e programáticas. Mestre em administração, sua indicação servirá para o Cidadania reforçar a marca do partido junto ao eleitorado local. As chances de passar ao segundo, por ora, são reduzidas.

Apoiado pelo PSDB e pelo PTB, o DEM pretende lançar o ex-deputado federal, ex-governador e ex-ministro da Educação Mendonça Filho. Político experiente, chegou a ocupar a liderança de sua bancada na Câmara dos Deputados. Seus aliados apostam no peso de seu nome - o establishment político vê em Mendonça Filho a principal alternativa à esquerda. O racha PSB-PT pode ser favorável ao candidato.

Outros nomes, de partidos menores, deverão ser apresentados ao eleitor recifense, mas serão apenas figurantes. A disputa de fato se dará entre políticos já experientes, apesar de jovens. Pequenos detalhes definirão o vencedor.

André Pereira César

Cientista Político

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