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Reflexões iniciais sobre a sucessão em Porto Alegre

Com aproximadamente 1,5 milhão de habitantes, a capital gaúcha será mais uma vez estratégica para as pretensões dos partidos nas eleições do final do ano. Dessa vez, a disputa tem um elemento extra - o processo de impeachment do atual prefeito, Nelson Marchezan Júnior (PSDB).

A situação de Marchezan, que ainda se coloca como pré-candidato, não é confortável. Rompido com seu vice, Gustavo Paim (PP), ele é acusado de usar mais de R$ 3 milhões do Fundo Municipal de Saúde em publicidade. Na Câmara Municipal, o placar favorável à abertura do processo de afastamento (31 a 4) mostra que nem a antiga base apoia o prefeito. O avanço da pandemia na cidade apenas piorou sua situação, que beira o insustentável.

Paim, o atual vice, está em campo em busca de apoio. Com um discurso que reforça o distanciamento do atual titular, ele negocia a inclusão do PRTB, partido de Hamilton Mourão, em sua chapa. Um dos focos da ação de Paim é o empresariado local, com quem tem boas conexões.

Força política tradicional em todo o estado e também na capital, o MDB deverá lançar o deputado estadual Sebastião Melo, que inclusive enfrentou Marchezan no segundo turno em 2016. Em busca de aliados, o parlamentar conversa até mesmo com bolsonaristas.

Outra legenda tradicional, o PTB deverá apresentar o ex-prefeito José Fortunati como seu representante na disputa. Ele busca fechar uma ampla coalizão de partidos de centro e não descarta retirar seu nome em favor de outro candidato.

A esquerda terá diferentes candidaturas, mas apresenta uma novidade para o pleito de agora. O PT, eterno protagonista na cidade, tendo governado entre 1989 e 2005, não terá o comando de chapa. O partido com o ex-ministro Miguel Rossetto, ocupará a vice da ex-deputada Manuela D’Ávila (PC do B). Candidata a vice-presidente em 2018, ao lado do petista Fernando Haddad, ela é forte na capital e tem grandes chances de chegar ao segundo turno, apresentando um discurso de renovação na esquerda.

Por falar em renovação no campo da esquerda, o PSOL lançará a deputada federal Fernanda Melchiona, que está em seu primeiro mandato em Brasília. Vereadora mais votada em 2016, ela tem o apoio de movimentos sociais e de boa parcela do eleitorado mais jovem.

Por fim, o PDT novamente baseará sua campanha na figura emblemática do ex-governador Leonel Brizola. Sua neta, a deputada estadual Juliana Brizola, encabeçará a chapa defendendo o legado do avô, com foco na educação pública. A bandeira do trabalhismo dará o norte da campanha.

Como se vê, a disputa na capital gaúcha, ao menos por ora, não está restrita a dois polos, como se fosse um grenal. A situação política do atual prefeito, a ser definida em breve, ditará os rumos do pleito, que segue em aberto.

André Pereira César

Cientista Político

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