Eleições municipais: vencedores e derrotados - 2 - Eleições Municipais - Hold

Eleições municipais: vencedores e derrotados – 2

Concluído o primeiro turno das eleições municipais, já se pode fazer um balanço em torno dos resultados do pleito. De modo geral, não há vencedores ou derrotados absolutos, mas sim um quadro de fortalecimento de alguns e de perda de peso político de outros.

Jair Bolsonaro - sai menor do pleito. Apoiou candidatos derrotados em cidades importantes como São Paulo, Belo Horizonte e Salvador. No Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos) tem reduzidas chances no segundo turno contra Eduardo Paes (DEM). O desempenho registrado pelo bolsonarismo em 2018 não se repetiu. Até mesmo o filho Carlos Bolsonaro (Republicanos) não consegui repetir o número de votos de 2016, ficando em segundo lugar nas intenções dos eleitores. Para não se tornar ainda mais dependente do Centrão, o presidente precisa se filiar rapidamente a um partido com estrutura nacional.

Lula e o PT - a exemplo do presidente Jair Bolsonaro, o ex-presidente Lula sai da disputa com capital político reduzido. Sua influência foi limitada mesmo nas grandes cidades, e o PT acabou amargando derrotas de forte caráter simbólico que colocam em xeque seu hegemonismo no campo da esquerda - São Paulo sintetiza esse quadro. As esperanças do partido repousam agora sobre Recife, onde a candidata Marília Arraes tem chances reais de derrotar o até agora favorito João Campos (PSB).

Esquerda/PSOL, PCdoB, PDT e PSB - entre os demais partidos da esquerda, o grande destaque é o PSOL, que teve ótimo desempenho em diversas cidades. Em São Paulo, Guilherme Boulos caminha para se consolidar como uma das grandes lideranças esquerdistas em âmbito nacional. O PCdoB, por sua vez, carrega suas fichas em Porto Alegre com Manuela D’Ávila, mas enfrentará o peso do MDB no segundo turno. O PDT de Ciro Gomes e o PSB conseguiram importantes vitórias e podem buscar reforçar os laços entre os dois desde já, visando 2022.

MDB, DEM e PSDB - entre as cem maiores cidades do país, o PSDB conquistou 9, MDB 8 e DEM 5. O desempenho geral das três agremiações de centro-direita mostra que o eleitor não apoia mais o radicalismo extremista de 2018. Mais ainda, os resultados indicam que a reedição da aliança que deu suporte ao governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) tem condições de ocorrer na sucessão presidencial. Interesse e peso político não faltam aos três partidos.

Centrão/PP, PSD e Republicanos - as eleições deixam claro que existem diferentes “centrões” dentro do Centrão, cada qual vivendo realidades distintas. Dois integrantes do bloco tiveram ótimo desempenho no pleito, o PP e o PSD - esse último conquistou 6 entre as cem maiores cidades do país. Já o Republicanos, partido da Igreja Universal do Reino de Deus, sofreu reveses significativos, o principal deles a candidatura de Celso Russomanno em São Paulo.

Pesquisas eleitorais - salvo algumas poucas exceções, os números mostrados pelos principais institutos de pesquisa foram condizentes com os resultados finais nas grandes cidades. As críticas, caso existam, não se justificam. Cabe lembrar que os elevados índices de abstenção, em razão da pandemia, representaram dificuldade extra para se aferir as intenções de voto do eleitorado.

Justiça Eleitoral/Tribunal Superior Eleitoral - o sistema eleitoral brasileiro sempre foi motivo de orgulho, por sua rapidez e segurança na divulgação dos resultados. O que se viu em 2020, porém, foi o contrário - problemas na contabilização que alimentaram desvairadas teorias conspiratórias de todo tipo. Para piorar, a comunicação do TSE não ajudou nas explicações. Resultado final - os defensores do voto impresso ganham “argumentos” contra o atual sistema.

Considerações finais - as eleições municipais serão concluídas em segundo turno em 56 cidades no dia 29 próximo. Independentemente do resultado final, já se pode afirmar que o eleitor caminhou para o centro, para a segurança dos grandes partidos, refutando em larga medida o extremismo bolsonarista. No âmbito da esquerda, ao PT caberá abrir espaço para outras forças, sob o risco de perder ainda mais relevância.

André Pereira César
Cientista Político

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