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Questões da Crise – O Protagonismo da China

Em tempos difíceis, a China vem reforçando sua condição de protagonista no cenário mundial com a evolução da crise. Como se sabe, a participação chinesa no comércio internacional é muito expressiva e qualquer queda em seu desempenho econômico tem reflexos negativos em todo o planeta. Hoje, mais que nunca, os olhos de todos estão voltados para aquela região.

O vírus teria surgido em meados de novembro passado na província de Hubei, cuja capital, Wuhan, tornou-se o símbolo maior da crise. Por sinal, o suposto “paciente zero” teria cerca de 55 anos e ainda estaria circulando pela região. Pouco importa. O fato é que a doença se espalhou rapidamente pelo país e, logo a seguir, cruzou fronteiras e passou a assustar o mundo.

Agora, ao que tudo indica, a situação está sob relativo controle por lá. Mas quais as medidas adotadas pelo governo de Xi Jinping estão sendo utilizadas para conter o avanço do novo Coronavírus num país continental como a China?

Ao menos dez podem ser listadas, todas, à princípio, de baixa complexidade. São elas o isolamento imediato de Wuhan, epicentro da doença; suspensão dos serviços de transportes pessoais dentro de condomínios e universidades; proibição da entrada de não condôminos em conjuntos habitacionais; suspensão dos serviços de entrega; regras claras de quarentena; controle rigoroso dos voos internacionais que chegam ao país; checagem de temperatura em todos os estabelecimentos públicos; suspensão de todas as atividades acadêmicas; desenvolvimento de novos sistemas de controle via WeChat, a principal rede social local; e uso universal de máscaras.

O aparente controle sobre a disseminação do vírus na China e o deslocamento dos casos para outras regiões do planeta, como Europa e Américas, despertou a atenção de muitos - líderes políticos, autoridades sanitárias e outros. O país começou a ser disputado como parceiro e equipes médicas chinesas foram enviadas a diferentes nações.

Apesar disso, a China não é vista hoje com benevolência absoluta pela comunidade internacional. Ao contrário, há muita desconfiança com relação aos métodos e aos resultados anunciados por Pequim. Um exemplo claro disso está no comportamento do presidente norte-americano, Donald Trump - ele chegou a qualificar o novo Coronavírus como um “vírus chinês”, causando irritação nas autoridades daquele país. Trump, porém, recuou em seu discurso e se aproximou de Xi Jinping em busca de acordos comerciais e de combate à pandemia. Pragmatismo que não durou muito. Na última terça-feira (14), Trump anunciou a suspensão de contribuições à Organização Mundial de Saúde-OMS sob o argumento de que o Organismo tem dado muita atenção à China e que não tem sido transparente na divulgação de dados referentes à COVID-19.

Enquanto isso, as relações sino-brasileiras seguem de mal a pior. Declarações infelizes de integrantes do governo, como o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e próximas ao Planalto, como o deputado Eduardo Bolsonaro, irritaram profundamente Pequim. Importantíssimo parceiro comercial e comprador de muitos produtos brasileiros, como soja e minério de ferro, o governo de Xi Jinping pode partir para a retaliação efetiva, com efeitos danosos para nossa já combalida economia.

Nesse processo é importante destacar a atuação do embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming. Diplomata desde o início da década de noventa, especialista em América Latina (já serviu no México, no Chile e na Argentina) e tido como extremamente pragmático, foi ele o principal responsável pelas respostas mais duras dos ataques dos bolsonaristas.

O que será da China após a pandemia? Ainda é cedo para se dizer, mas alguns sinais são claros. Ela deverá sair fortalecida, com participação fundamental na recuperação econômica de todo o mundo. Além disso, deverá ter grande peso em questões tecnológicas e sanitárias, fazendo ainda mais frente à hegemonia econômica e militar dos Estados Unidos. Por conta disso, é de suma importância o Brasil retomar a normalidade de suas relações com Pequim.

André Pereira César

Cientista Político

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