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Auxílio emergencial como fato político

O ano chega ao fim com diversas pendências no âmbito da política e da economia. Entre as pendências, uma das mais relevantes diz respeito ao auxílio emergencial, implementado após a eclosão da pandemia. A possível extinção do programa trará graves efeitos para a população.

Primeiramente, aos números. Pesquisa do DataFolha recém divulgada mostra que o auxílio é a única fonte de renda para cerca de 36% dos beneficiários, um contingente expressivo - aproximadamente 68 milhões de brasileiros receberam os recursos. Para reforçar a dramaticidade da situação, a redução do valor do benefício, de R$ 600 para R$ 300, levou muitos a buscar outras fontes de renda, em geral com reduzido sucesso. O quadro é nebuloso.

Com a economia ainda claudicando, o auxílio emergencial continua a ser fundamental para os setores mais vulneráveis da sociedade. As soluções, porém, não aparecem no horizonte.

A pandemia não dá trégua e 2021, ao menos em seus primeiros meses, repetirá o cenário do ano que se encerra. Com cerca de 14% de desempregados, cifra que cresce ao se contabilizar aqueles que não buscam emprego (situação de desalento), tudo fica mais difícil. A questão, inevitavelmente, cai no colo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), por mais que ele negue.

Assumidamente pré-candidato à reeleição, o titular do Planalto descobriu no auxílio emergencial um de seus principais ativos políticos. É inegável que os índices de popularidade do presidente subiram a partir do advento da ajuda, que inclusive incrementou a economia. O jogo era favorável ao governo, mas claramente havia um prazo de validade para o processo. O iogurte venceu.

O início de 2021 será marcado pelo embate entre governo e Congresso. Falta dinheiro para a manutenção desse e de outros programas, ao menos nos termos atuais. Tanto que o Bolsa Família já excluiu uma significativa parcela de beneficiários para o próximo ano. As relações entre a Câmara dos Deputados e o Planalto não são das melhores, e mesmo as eleições de fevereiro, que mudarão o comando da Casa, não serão suficientes para alterar o quadro de maneira significativa.

Bolsonaro deseja a reeleição, e isso é legítimo. Com uma relativamente boa aprovação popular, ele certamente insistirá no projeto. Porém, como se sabe, essa avaliação positiva está umbilicalmente ligada ao auxílio emergencial. Uma base frágil, que pode se romper facilmente.

Para além da economia, o auxílio emergencial tem importância política. O futuro do programa impactará os rumos do governo Bolsonaro.

André Pereira César

Cientista Político

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