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2022, modo de usar: economia

A economia voltou ao topo das preocupações do brasileiro e será fator preponderante no ano eleitoral de 2022. PIB em trajetória descendente, inflação de dois dígitos, desemprego elevado e aumento expressivo da pobreza e da miséria compõem um coquetel de risco para o governo de Jair Bolsonaro (PL). Poucas vezes a expressão “é a economia, estúpido!” - hoje um clichê, na verdade - fez tanto sentido.

Comecemos pela inflação, que fechou 2021 em 10,06% (IPCA), acima do projetado pelo mercado e maior alta para o período de janeiro a dezembro desde 2015, quando atingiu 10,67%. Pior, o resultado ficou muito acima do centro da meta estabelecida pelo Banco Central para o ano recém-encerrado, de 3,75%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Índice muito ruim, sem sombra de dúvida. Para 2022, a projeção é melhor, 5,03%, mas ainda elevada.

Em carta enviada ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e ao Conselho Monetário Nacional, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, atribuiu a alta da inflação à pandemia e seus efeitos (lockdown, preços das commodities, etc) e à crise hídrica. Nem a elevação dos juros ao longo do ano conseguiu segurar o “dragão”. A impressão que fica é de que a pandemia acabou virando uma boa explicação para tudo. O BC entra em 2022 sob pressão.

A taxa básica de juros (Selic), por sinal, deverá atingir 11,75% no ano que se inicia, segundo o Boletim Focus do Banco Central - hoje está em 9,25%. Mais um peso no bolso da população, em especial as mais pobres.

O PIB também é outro foco de problemas. A projeção do mercado para 2021 ficou abaixo de 5%, ou seja, recuperação modesta após o tombo de 2020 - queda de 3,9%. Para o ano que se inicia, os números são desalentadores, com alta de apenas 0,28%. Desempenho pífio no horizonte, com o Brasil andando de lado. A pandemia, mais uma vez deverá ser apontada como a grande vilã.

O Banco Mundial igualmente olha o Brasil com um viés negativo. A instituição reduziu a estimativa de crescimento da economia brasileira para 2022, de 2,5% para 1,4%. Trata-se da menor taxa de crescimento entre os dezoito países emergentes cujas projeções foram destacadas pelo Banco. Na América Latina e Caribe, o Brasil supera apenas o combalido Haiti.

É evidente que todo esse quadro deságua no dia a dia da população, com o consistente aumento do desemprego e o inevitável crescimento da pobreza e da miséria. Hoje, são 12,9 milhões de brasileiros sem ocupação (12,1%), sem contar os informais e aqueles que simplesmente desistiram de buscar emprego.

As imagens de pessoas buscando comida no lixo ou atrás de ossos para se alimentar doem, e representam um símbolo de 2021. De acordo com a FGV Social, 28 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza no país. Para o novo ano, as expectativas não são melhores. O recém-criado programa social Auxílio Brasil, em 2022, deixará de fora do programa boa parte dos então assistidos pelo extinto Bolsa Família. A miserabilidade deve dar um salto.

O responsável principal pela situação, é claro, é o governo federal, corporificado aqui na figura do ministro Guedes e do presidente Bolsonaro. O ex-Posto Ipiranga, que tão logo assumiu, no início de 2019, prometeu uma era de ouro para o país, pouco entregou - por exemplo, das dezessete privatizações previstas para o atual mandato, nenhuma ocorreu. Muito barulho por nada.

Enfim, os adversários de Bolsonaro terão na economia um prato cheio para se fartar durante a campanha eleitoral. Mas, sem ilusões. O próximo governo, seja ele qual for, terá um caminho espinhoso pela frente. Tempos ainda mais difíceis se desenham no horizonte.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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